ATA DA QUADRAGÉSIMA QUARTA SESSÃO ORDINÁRIA DA PRIMEIRA SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA DÉCIMA SEGUNDA LEGISLATURA, EM 02.06.1997.

 


Aos dois dias do mês de junho do ano de mil novecentos e noventa e sete reuniu-se, na Sala de Sessões do Palácio Aloísio Filho, a Câmara Municipal de Porto Alegre. Às quatorze horas foi realizada a chamada, sendo respondida pelos Vereadores Adeli Sell, Cláudio Sebenelo, Clênia Maranhão, Clovis Ilgenfritz,, Eliseu Sabino, Guilherme Barbosa, João Carlos Nedel, Lauro Hagemann, Nereu D'Ávila, Paulo Brum, Pedro Américo Leal, Sônia Santos e Tereza Franco. Ainda, durante a Sessão, compareceram os Vereadores Anamaria Negroni, Antonio Hohlfeldt, Antônio Losada, Carlos Garcia, Cyro Martini, Décio Schauren, Elói Guimarães, Fernando Záchia, Gerson Almeida, Hélio Corbellini, Isaac Ainhorn, João Dib, João Motta, José Valdir, Juarez Pinheiro, Luiz Braz, Maria do Rosário, Pedro Ruas, Reginaldo Pujol e Renato Guimarães. Constatada a existência de "quorum", o Senhor Presidente declarou abertos os trabalhos e determinou a distribuição em avulsos de cópias da Ata da Quadragésima Segunda Sessão Ordinária, que foi aprovada. À MESA foram encaminhados: pelo Vereador Carlos Garcia, 06 Pedidos de Providências; pelo Vereador Cláudio Sebenelo, o Projeto de Lei do Legislativo nº 107/97 (Processo nº 1712/97); pelo Vereador Eliseu Sabino, 01 Pedido de Providências; pelo Vereador Guilherme Barbosa, o Substitutivo ao Projeto de Lei do Legislativo nº 58/97 (Processo nº 1223/97); pelo Vereador João Carlos Nedel, 07 Pedidos de Providências; pelo Vereador Paulo Brum, 02 Pedidos de Providências; pela Vereadora Sônia Santos, 01 Pedido de Providências. A seguir, foi apregoado o Ofício nº 250/97, do Senhor Prefeito Municipal de Porto Alegre, encaminhando o Projeto de Lei do Executivo nº 25/97 (Processo nº 1822/97). Do EXPEDIENTE constaram: Ofícios nºs 16/97, do Vereador Acrisio de Assunção, Presidente da Câmara Municipal de Estância/SE; 75/97, do Deputado Cézar Busatto, Secretário de Estado da Fazenda/RS; 269/97, do Vereador Edmundo Silveira, Presidente da Câmara Municipal de Iguaba Grande/RJ; s/nº, do Lama Padma Samten - Alfredo Aveline, Presidente do Centro de Estudos Budistas Bodisatva; s/nº, do Doutor Almir Lima, Psicólogo Clínico e Coordenador-Geral do Programa Brasília/Miami; s/nº, do Senhor Gildo Milman, Presidente da Sociedade Humanitária Padre Cacique; s/nº, do Senhor Edemar Mombach, Superintendente Estadual do Banco do Brasil no Estado/RS; s/nº, do Senhor Jair Marques Wolff; s/nº, da Senhora Wrana Maria Panizzi, Reitora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS; s/nº, do Senhor Artur Oscar Loureiro de Albuquerque, Presidente do Sindicato das Associações de Criadores do Estado do Rio Grande do Sul - SINDAC; s/nº, do Senhor Amilton Cunha Soares, Presidente do Sindicato Rural de São Lourenço do Sul e Diretor da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul - FARSUL. Em continuidade, em TRIBUNA POPULAR, o Senhor Presidente concedeu a palavra ao Senhor André Luiz Walendorff Borowski, Presidente do Clube de Orientação de Porto Alegre - COPA, que discorreu sobre o trabalho realizado pela entidade que preside, no sentido de divulgar a importância da prática esportiva da Orientação, explanando, em especial, acerca do Projeto Verde Urbano: promoção do trinômio Homem Urbano - Natureza - Esporte. Na ocasião, os trabalhos estiveram suspensos das quatorze horas e vinte e sete minutos às quatorze horas e vinte e nove minutos, nos termos regimentais. Em PAUTA, Discussão Preliminar, estiveram: em 3ª Sessão, os Projetos de Resolução nºs 08 e 16/97; o Projeto de Lei do Legislativo nº 86/97, discutido pelo Vereador Cláudio Sebenelo; os Projetos de Lei do Legislativo nº 103 e 89/97, este discutido pelos Vereadores Carlos Garcia e Cláudio Sebenelo. A seguir, constatada a existência de "quorum", foi iniciada a ORDEM DO DIA. Em Discussão Geral e Votação, foi aprovado o Projeto de Lei do Legislativo nº 176/96, após ser discutido pelo Vereador Cláudio Sebenelo. Em Discussão Geral e Votação Nominal, foi aprovado o Projeto de Lei do Legislativo nº 02/97, por vinte e quatro votos SIM, cinco votos NÃO e duas ABSTENÇÕES, após ser discutido pelos Vereadores Maria do Rosário, Renato Guimarães, Pedro Américo Leal, Guilherme Barbosa, Cláudio Sebenelo, Reginaldo Pujol, Carlos Garcia, Clênia Maranhão, Anamaria Negroni, Adeli Sell, Elói Guimarães, Isaac Ainhorn, Gerson Almeida, João Motta, José Valdir, Pedro Ruas, Juarez Pinheiro, Lauro Hagemann e Antonio Hohlfeldt e encaminhado à votação pelos Vereadores Pedro Américo Leal, Luiz Braz, Nereu D'Ávila, Reginaldo Pujol, Cláudio Sebenelo e Maria do Rosário, tendo votado Sim os Vereadores Adeli Sell, Antônio Losada, Carlos Garcia, Clênia Maranhão, Clovis Ilgenfritz, Cyro Martini, Décio Schauren, Eliseu Sabino, Elói Guimarães, Gerson Almeida, Guilherme Barbosa, Hélio Corbellini, João Motta, José Valdir, Juarez Pinheiro, Lauro Hagemann, Luiz Braz, Maria do Rosário, Nereu D'Ávila, Paulo Brum, Pedro Ruas, Renato Guimarães, Sônia Santos e Tereza Franco, Não os Vereadores Anamaria Negroni, Cláudio Sebenelo, João Carlos Nedel, Pedro Américo Leal e Reginaldo Pujol, e optando pela Abstenção os Vereadores Fernando Záchia e Isaac Ainhorn, com Declaração de Voto dos Vereadores Elói Guimarães, Nereu D'Ávila, Pedro Américo Leal e Reginaldo Pujol. Na ocasião, os trabalhos estiveram suspensos das dezesseis horas e quarenta e cinco minutos às dezesseis horas e cinqüenta e dois minutos, nos termos regimentais. Também, os Vereadores Tereza Franco e Eliseu Sabino cederam seus tempos de discussão do Projeto de Lei do Legislativo nº 02/97 para o Vereador Isaac Ainhorn e o Vereador  Paulo Brum cedeu seu tempo de discussão para o Vereador Gerson Almeida. Ainda, o Senhor Presidente, respondendo a Questões de Ordem dos Vereadores Isaac Ainhorn e Cyro Martini, informou que o Projeto de Lei do Legislativo nº 02/97 enquadra-se perfeitamente nas exigências do artigo 5º da Lei nº 1534/55. Às  dezessete  horas  e  quarenta  minutos, os trabalhos foram  suspensos, nos termos regimentais. Às dezoito horas e trinta e quatro minutos, <MOLD=2 pt><MF=27 mm><PF=12 mm><LF=164 mm><AF=261 mm>constatada a inexistência de "quorum" para a reabertura dos trabalhos, o Senhor Presidente declarou encerrados os trabalhos, convocando os Senhores Vereadores para a Sessão Ordinária da próxima quarta-feira, à hora regimental. Os trabalhos foram presididos pelos Vereadores Clovis Ilgenfritz, Isaac Ainhorn e Paulo Brum e secretariados pelos Vereadores Paulo Brum e Guilherme Barbosa. Do que eu, Paulo Brum, 1º Secretário, determinei fosse lavrada a presente Ata que, após distribuída em avulsos e aprovada, será assinada por mim e pelo Senhor Presidente.

 

 

 

 


O SR. PRESIDENTE (Clovis Ilgenfritz): Passamos à

 

TRIBUNA  POPULAR

 

O Sr. André Luiz Walendorff Borowski está com a palavra para falar em nome do Clube de Orientação de Porto Alegre - COPA.

 

O SR. ANDRÉ LUIZ BOROWSKI: Sr. Presidente, Srs. Vereadores e demais presentes, eu estou aqui representando uma entidade denominada Clube de Orientação de Porto Alegre. É uma associação sem fins lucrativos, que tem  como objetivo a difusão, através do ensino e da prática, de uma atividade bastante nobre, que eu vou tentar explicar de uma maneira mais clara para os Senhores, chamada orientação. Orientação é uma atividade que se faz com mapa e bússola. Para que nós possamos entender um pouquinho do que é orientação, vamos retornar há bastante tempo, talvez até à pré-história, onde o homem primitivo, para conseguir a sua sobrevivência, precisava ir atrás do alimento. Então, ele precisava encontrar caminhos para chegar até onde obter esse alimento, ele precisava  retornar ao local onde estava o seu clã. Esse homem foi constituindo comunidades cada vez mais organizadas, sociedades que, mais tarde, começaram a conquistar outros espaços, conquistar até mesmo outros povos. E surgiram as civilizações, as grandes cidades da história antiga e que deram origem às civilizações atuais. Esses povos, basicamente nos seus deslocamentos, para conseguirem essas conquistas, para conseguirem conquistar territórios através de seus exércitos, precisaram de informações sobre terreno,  de como chegar e como retornar. Então, esses povos nada mais fizeram, além dos seus objetivos, do que orientar-se.

Existe uma lenda grega que nos traz o grande feito de um soldado que recebeu a missão de levar de uma cidade grega até outra uma mensagem no desenrolar de uma guerra. Esse soldado tinha um tempo bastante exíguo para levar essa mensagem e a distância era bastante grande. A única forma de deslocamento era a pé. Ele conseguiu; teve raciocínio e vigor físico para chegar no local e transmitir a mensagem com eficiência. A distância que ele percorreu, medida posteriormente, apontou 42.195 metros. Esse fato histórico - alguns dizem que é lenda - é tão importante, que foi utilizado como referência para prova olímpica da maratona.

O homem primitivo já se orientava. Esse exemplo do soldado grego é um exemplo de orientação. Na nossa vida diária precisamos de orientação. Todos os dias, quando saímos,  temos que decidir se vamos para a direita ou esquerda, se vamos para o centro ou para o bairro. Nós estamos nos orientando. Quando nos deslocamos dentro da cidade e precisamos chegar a determinado local, nós precisamos tomar a decisão de qual o melhor caminho. Essa decisão é de orientação. Em 1918, na Suécia, com o objetivo de incentivar os jovens a praticarem atividades esportivas ligadas ao meio ambiente  e a  sua preservação, preservar esse meio, esboçaram-se as primeiras formas da orientação do esporte. O início se deu com atividades simples, onde esses jovens eram desafiados a, junto à natureza, fazer pequenos deslocamentos usando mapa e bússola. A partir de 1960, com o aprimoramento bastante grande dos mapas, quando começou a ser usada a representação de altimetria, através de curvas de nível que tem hoje nos nossos levantamentos aerofotogramétricos, houve um avanço na qualidade dos mapas  e com isso conseguiu-se melhorar muito a prática dessa atividade, que já era então um esporte. Nos países nórdicos esse esporte é praticado de maneira maciça; praticamente toda a população o conhece desde a infância nas escolas. Em alguns países, ainda no currículo escolar básico, esse esporte é ensinado e toda a família, nos grandes eventos ou nos finais de semana nas praças ou parques, tem condições de participar, desde  o netinho, os pais, os avós. Inclusive, nesses países são realizadas anualmente competições de grande porte com a participação de deficientes físicos. Não existe restrição de idade para desenvolver essa atividade. Em 1970, no Brasil, as Forças Armadas mandaram para o exterior três observadores, um de cada Força - Exército, Marinha, Aeronáutica - para tomarem conhecimento do esporte, que passaria a fazer parte das competições militares. Assim, desde 1971, o esporte é praticado no Brasil. Para muitas pessoas presentes pode parecer estranho, porque nunca ouviram falar, mas, por razões até mesmo da vinda para o Brasil, esse esporte ficou quase que restrito ao meio militar, até  mesmo pela atividade militar demandar um conhecimento mais profundo da  orientação.

De 1990 para cá, por iniciativa de praticantes  que passaram pelo Exército, alguns da ativa e outros tantos que passaram pelo Exército, começaram a surgir, principalmente no Rio Grande do Sul, inúmeras entidades que queriam levar para os demais segmentos da sociedade a prática desse esporte tão nobre. Então, surgiram os clubes de orientação. O Rio Grande do Sul é pioneiro. Há nove clubes, já constituídos, de orientação e, no ano passado, foi criada a Federação Gaúcha de Orientação, que congrega e regula essas entidades já legalmente constituídas.

Vou falar agora sobre o projeto que foi elaborado pela nossa entidade e que está em franco desenvolvimento, chamado Verde Urbano. O Projeto Verde Urbano tem como objetivo principal, através do ensino e da prática da orientação, fazer com que esse cidadão, habitante do conglomerado urbano de Porto Alegre, possa aprender um pouco mais sobre o meio ambiente, aprender uma maneira de ele se relacionar melhor com esse meio ambiente, e para isso colocamos como instrumento a orientação. Realizamos esse Projeto em parceria com algumas entidades, como, por exemplo, a SMAM, e decidimos escolher algumas áreas em Porto Alegre. O Projeto foi constituído com quatro fases: a primeira fase é o Projeto Morro do Osso; a segunda, o Parque Marinha do Brasil e Harmonia; a terceira, o Campus Agronomia e a Encosta do Morro Santana; e a última fase, toda a área do Parque Saint Hilaire, que hoje é mapeada somente uma parte. Realizamos no dia 27 de abril deste ano, na Praça Adel Carvalho, que foi o local de concentração, com amplo apoio de órgãos como SMAM, Associação de Moradores do Jardim Isabel-Ipanema e demais entidades, da METROPLAN e SMOV, através de material cartográfico, que é o apoio material para fazermos o nosso mapeamento.

Esse é o Projeto Verde Urbano e estamos agora trazendo ao conhecimento dos Srs. Vereadores e demais presentes os nossos objetivos. Fica com os Senhores este material onde se encontram, de forma detalhada, as fases e os objetivos do projeto. Quero dizer aos Senhores que já estamos trabalhando na próxima fase, que é a do Parque  Marinha do Brasil e Harmonia. Estamos  iniciando o mapeamento dessas  áreas, que será  utilizado em um evento promovido pela Secretaria Municipal dos Esportes no dia 12 de outubro próximo. Assim, estamos divulgando esse trabalho. Agradeço a atenção dos Senhores. O Clube de Orientação de Porto Alegre está à disposição para qualquer esclarecimento. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Está à disposição a palavra para tempo de Liderança.

Os Srs. Vereadores receberam um material muito interessante desta proposta  chamada COPA - Clube de Orientação de Porto Alegre, que foi colocada pelo Sr. André Luiz Borowski, acompanhado de outro membro da Diretoria, Sr. Inácio Sibilis. A nossa conversa, quando, como Presidente, recebemos os representantes do Grupo de Orientação em nosso gabinete, nos deixou muito bem impressionados. O tempo aqui é realmente muito curto para que os detalhes sejam colocados. Mas tenho certeza, Sr. André Luiz, Sr. Sibilis, de que, dado ao inusitado, à inovação que representa o Clube de Orientação, o pioneirismo que os Senhores estão desenvolvendo é muito importante. Temos certeza de que vai frutificar essa proposta, porque ela busca exatamente a harmonia. Como dizia um grande arquiteto, Le Corbusier, “a mais bela paixão humana me parece ser a busca da harmonia”. Ela tem um sentido amplíssimo, e a busca da harmonia no ecossistema, que considero importante colocar em termos de ecopolítica, é o homem, a natureza e o esporte. Agradecemos muito pela participação dos Senhores. O Clube COPA pode ter a certeza de que a semente está lançada também aqui, no Parlamento Municipal.

Estão suspensos os trabalhos para as despedidas.

 

(Suspendem-se os trabalhos às 14h27min.)

 

O SR. PRESIDENTE (Isaac Ainhorn - às 14h29min): Estão reabertos os trabalhos.

Passamos à

 

 

PAUTA - DISCUSSÃO PRELIMINAR

 

3ª SESSÃO

 

PROC. 0943/97 - PROJETO DE RESOLUÇÃO Nº 008/97, de autoria do Ver. Elói Guimarães, que concede o título honorífico de Cidadão Emérito ao Senhor Paulo Roberto Saraiva da Costa Leite.

 

PROC. 1430/97 - PROJETO DE LEI DO LEGISLATIVO Nº 086/97, de autoria do Ver. Reginaldo Pujol, que estabelece proibição, às bancas de jornais e revistas, livrarias, sebos e similares, de exposição e venda de publicações sobre armas e munições, sem embalagens lacradas, no Município de Porto Alegre. Com Emenda nº 01.

 

PROC. 1434/97 - PROJETO DE LEI DO LEGISLATIVO Nº 089/97, de autoria do Ver. Carlos Garcia, que dispõe sobre a criação de um Museu do Desporto no Município de Porto Alegre.

 

PROC. 1618/97 - PROJETO DE RESOLUÇÃO Nº 016/97, de autoria do Ver. Antonio Hohlfeldt, que concede a Comenda Pedro Weingärtner às artistas plásticas Alice Soares e Alice Brueggemann.

 

PROC. 1636/97 - PROJETO DE LEI DO LEGISLATIVO Nº 103/97, de autoria do Ver. José Valdir, que concede o título honorífico de Cidadão de Porto Alegre ao poeta Luiz de Miranda.

 

O SR. PRESIDENTE: O Ver. Carlos Garcia está com a palavra para discutir a Pauta.

 

O SR. CARLOS GARCIA:  Sr. Presidente e Srs. Vereadores. Estamos novamente enfocando o tema Museu do Desporto. E por que estamos enfocando? Porque   no sábado, em um jornal de nossa Capital, saiu uma matéria sobre o Museu do Desporto e dizia que talvez ele fosse um museu de réplica. Não é esse o nosso entendimento. Nós, por mais de uma vez, dissemos que a idéia desse Museu do Desporto é resgatar a memória do desporto  em Porto Alegre. Estamos tentando coletar o maior número possível de subsídios das diversas áreas esportivas para esse Museu. A nossa idéia é de que ele não seja um museu estático, mas sim itinerante, que ele possa ir a diversas localidades.

Num jornal da Cidade, no sábado, saiu que seria um museu de réplica, talvez desconhecendo o próprio conteúdo que está inserido na proposta desse Museu. Por isso  aproveitamos o período de Pauta e manifestamos que a idéia do Museu é colher todos os dados e informações necessárias para que realmente possamos resgatar a memória do desporto em Porto Alegre. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE:  O próximo inscrito é o Ver. Adeli Sell. Desiste. O Ver.  Cláudio Sebenelo está com a palavra para discutir a Pauta.

 

O SR. CLÁUDIO SEBENELO: Sr. Presidente e Srs. Vereadores. O Projeto nº 089/97, de autoria do Ver. Carlos Garcia, dispõe sobre a criação do  Museu de Desporto no Município de Porto Alegre, que deve ser encarado não como uma coisa estática, uma coisa de museu. Deve ser absolutamente dinâmico. É fundamental que não participem somente as estruturas voltadas ao futebol - que é o esporte que mais monopoliza -, mas todas as atividades consideradas desportivas e, muito mais, que as pessoas assistam ao desenrolar de uma competição esportiva, mas, principalmente, que as pessoas tenham condições de participar da disputa esportiva. Isso é fundamental. A história do desporto, principalmente porto-alegrense, deve ser reescrita, pois é extremamente rica, cheia de  nuanças. Parece-me que é um dos projetos mais sedutores do ponto de vista da importância e da contribuição para as próximas gerações do que foram os grandes atletas, as grandes figuras do desporto, mesmo que não militassem em futebol ou em esportes mais divulgados.

Por outro lado, queria voltar a falar sobre o Projeto do Ver. Reginaldo Pujol a respeito da proibição, nas bancas de jornais, de publicações sobre armas e munições, sem embalagens lacradas. Infelizmente, não está presente o Ver. Reginaldo Pujol, mas sabemos que o lacre serve apenas para ser retirado, mais nada. Ele não vai impedir que armas e munições, em revistas especializadas ou em revistas não especializadas, cheguem a qualquer pessoa de qualquer idade. O que na verdade tenta-se fazer, através desse Projeto, é trabalhar na conseqüência e não na causa. É fundamental que se trabalhe na causa e é fundamental que essas agressões e violências não partam mais das estruturas familiares, das estruturas estatais, das estruturas sociais. Essa conseqüência, que tentamos tratar com esse Projeto, não vamos atingir. Apesar do seu mérito, ele certamente não atingirá os objetivos a que se  propõe, até porque é muito fácil destruir a embalagem lacrada e é muito fácil ter acesso, numa banca de revistas, a armas e munições, em sua forma figurada, com as embalagens transparentes ou não. O nosso problema fundamental em relação a armas e munições é um  problema de educação e não de embalagem. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Não havendo mais inscritos, encerramos o período de Pauta.  Havendo quórum, passamos à

 

<MOLD=2 pt><MF=27 mm><PF=15 mm><LF=164 mm><AF=257 mm><E><D><D>ORDEM DO DIA

 

DISCUSSÃO GERAL E VOTAÇÃO

 

PROC. 3051/96 - PROJETO DE LEI DO LEGISLATIVO Nº 176/96, de autoria do Ver. Artur Zanella, que dá nova redação ao art. 1º da Lei nº 7385, de 23 de dezembro de 1993, que denomina Av. Neusa Goulart Brizola um logradouro público localizado no Bairro Petrópolis. (desarquivado a requerimento do Ver. Elói Guimarães)

 

Pareceres

- da CCJ. Relator Ver. Cyro Martini: pela aprovação do Projeto;

- da CUTHAB. Relator Ver. Lauro Hagemann: pela aprovação do Projeto;

- da CECE. Relator Ver. Décio Schauren: pela aprovação do Projeto.

 

O SR. PRESIDENTE: Em discussão  o  PLL nº 176/96, de autoria do Ver. Artur Zanella.

O Ver. Cláudio Sebenelo está com a palavra para discutir.

 

O SR. CLÁUDIO SEBENELO: Sr. Presidente e Srs. Vereadores. Esse Projeto de Lei de autoria do Ver. Artur Zanella é uma das coisas mais ternas que este Plenário pode apreciar porque a opinião pública do Rio Grande do Sul foi testemunha do início de um caso de amor de um homem público que conheceu sua mulher dentro do Partido, PTB, se enamorou por esta mulher perdidamente, a fez sua esposa e  trilhou a vida inteira ao seu lado. Hoje, como acontece todos os anos, esse líder, que não é do meu partido, mas que todo Brasil admira, vem a São Borja, ao túmulo da família, prestar homenagem a esta mulher inigualável que sofreu na carne todas as mazelas, todas as dores da perseguição e toda a dor do exílio junto com seu esposo. Mas, um dia, alguém vai escrever sobre a palavra “a volta”. Quando saímos por trinta dias para veranear, na volta matamos a saudade de nossas coisas pessoais, de nosso bairro e de nossa cidade. E esse líder político não podia voltar. Ficou anos e anos fora, sem o direito da volta às suas raízes, ao seu chão, à sua terra e àquilo que é seu, que é nosso, que é a Pátria, que é o País. Esta mulher extraordinária sofreu todas as vicissitudes, inclusive repercutindo na saúde mental da família, já que seus filhos tiveram prejuízo de ficarem, na parte mais delicada de sua formação, longe porque os pais estavam no exílio. E, certamente, filho longe da família não tem aquele primor de educação que todos nós queremos para os nossos filhos. Eu sou favorável à aprovação do Projeto pela ternura, pela dimensão humana e imensa dessa mulher inigualável que foi Neusa Goulart Brizola. Muito obrigado.              

                           

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Encerrada a discussão. Em votação o PLL nº 176/96. (Pausa.) Os Srs. Vereadores que o aprovam permaneçam sentados. (Pausa.)  APROVADO.

 

DISCUSSÃO GERAL E VOTAÇÃO NOMINAL

 

PROC. 0250/97 - PROJETO DE LEI DO LEGISLATIVO Nº 002/97, de autoria da Vera. Maria do Rosário, que concede o título honorífico de Cidadão de Porto Alegre ao economista e dirigente do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST), Senhor João Pedro Stédile.

 

Pareceres

- da CCJ. Relator Ver. Nereu D'Ávila: pela aprovação do Projeto;

- da CECE. Relator Ver. Carlos Garcia: pela aprovação do Projeto.

 

Observações:

- para aprovação, voto favorável de dois terços dos membros da CMPA, nos termos do art. 82, § 2º, IV, da LOM;

- votação nominal nos termos do Art. 174, II, do Regimento da CMPA;

- discutiram a matéria os Vereadores J. Dib, I. Ainhorn, G. Almeida e L. Braz;

- adiada a discussão por cinco sessões.

 

O SR. PRESIDENTE: Em discussão o PLL nº 002/97. A Vera. Maria do Rosário está com a palavra para discutir.

 

A SRA. MARIA DO ROSÁRIO: Sr. Presidente e Srs. Vereadores, inscrevo-me para discutir esta matéria, cheia de desejos de que possamos fazer um debate aqui que, de fato, aborde as questões da defesa do povo brasileiro e que viabilize novamente, assim como foi feito na Sessão anterior, quando não pude estar presente por motivo de licença de saúde, o debate acerca da questão reforma agrária. Isso foi o que nos moveu quando apresentamos a esta Casa a possibilidade de conceder o título de Cidadão Honorífico de Porto Alegre ao economista João Pedro Stédile.

João Pedro Stédile é natural do Rio Grande do Sul, é filho de pequenos agricultores, é Bacharel em Ciências Econômicas, formado pela nossa Pontifícia Universidade Católica, e, desde 1979, participa da luta pela reforma agrária neste País. Certamente que esta luta não está restrita aos trabalhadores do campo. Quantos de nós, aqui, nesta Câmara de Vereadores sentados hoje, com a honra de sermos Vereadores de Porto Alegre, e quantos de vocês, nas galerias, e de nossos vizinhos, onde moramos, são pessoas vindas do interior do Estado, pessoas que, antes de tudo, buscaram uma oportunidade no seu lugar de origem e que não encontraram essa oportunidade, não encontraram terra para trabalhar e tampouco condições outras para que pudessem dar sustento às suas famílias! João Pedro Stédile, já em 1979, abraçou a luta pela reforma agrária como uma luta de  todo o povo brasileiro. Porque, sem dúvida, continuaremos a ter contradições sociais tão graves, com o empobrecimento tão grande da nossa população, enquanto não tivermos maior igualdade, enquanto não tivermos melhor distribuição de renda, enquanto as principais e primeiras propostas não forem desenvolvidas, enquanto não tivermos a reforma agrária. Digo aos Senhores que a minha compreensão pela luta da reforma agrária é, sim,  a defesa da própria segurança nacional. Não podemos viver num país seguro, que tenha condições de se desenvolver, se o povo brasileiro não tiver trabalho. E, nos últimos quarenta anos, vivemos um modelo que jogou para dentro das grandes cidades grande parte da população brasileira, que teve que abandonar o campo. E, no entanto, além de discursos,  muito pouco  se fez para que a população conseguisse se manter na sua terra natal, trabalhando e produzindo a terra.

Quero dizer a vocês que apresentei essa proposição que concede o título de Cidadão Honorífico da Cidade de Porto Alegre ao economista e dirigente do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra, João Pedro Stédile, pela generosidade com que abraçou a luta pela reforma agrária, pela defesa intransigente que faz da nossa gente, do nosso povo e porque acredito, sinceramente, que nós, quando aprovamos distinções dessa natureza, títulos dessa natureza - e peço a  minha Bancada, Ver. Juarez Pinheiro, e nós todos, debatendo essa questão-, sabemos que não trazemos um debate para o plano ideológico. Muito ao contrário, cada um dos 33 Vereadores tem a prerrogativa assegurada pelo Regimento de apresentar à Câmara Municipal de Porto Alegre uma distinção de título honorífico, de cidadania da Cidade de  Porto Alegre. Em todos os momentos em que os meus colegas apresentaram as suas proposições, sempre votei a favor, porque acredito que a Casa, e a  sua composição, traz um pluralismo que está presente dentro da sociedade. Mesmo que não concordássemos com uma ou com outra fala, trata-se aqui de garantir, sim, que esse pluralismo, que existe na sociedade e que é feito por diferentes etnias, diferentes religiões, diferentes pontos de vista e diferentes proposições ideológicas, possa, sem dúvida alguma, ser reconhecido, ser apreciado e ser saudado, porque a diferença de opinião e a democracia só podem valorizar ainda mais a sociedade em que vivemos. E o reconhecimento da diferença, com respeito às diferentes posições, nos faz, de fato, maiores, nos faz possivelmente melhores na nossa condição humana. Por isso é que peço aos Srs. Vereadores que aprovemos, nesta tarde, a concessão desse título honorífico da Cidade de Porto Alegre, porque seria, inclusive, inédita a rejeição de um título dessa natureza. Esta Vereadora acredita que seria negativo para os nossos futuros debates se ideologizássemos todas as questões. Agradeço e pretendo discutir novamente, se nenhum Vereador da minha Bancada se inscrever. Sou grata.

 

(Não revisto pelo oradora.)

 

O SR. PRESIDENTE (Paulo Brum): O Ver. Renato Guimarães está com a  palavra para discutir o PLL nº 002/97.

 

O SR. RENATO GUIMARÃES: Sr. Presidente e Srs. Vereadores, discuto o Projeto de Lei do Legislativo de autoria da Vera. Maria do Rosário, que concede o título honorífico de Cidadão de Porto Alegre ao economista e dirigente do Movimento dos Sem-Terra, João Pedro Stédile. Quero destacar que esta Casa vem demonstrando, no seu processo de debate com a sociedade, posição favorável à luta que os trabalhadores sem terra fazem na defesa de um pedaço de chão para plantar, para morar. Porto Alegre, ao dar esse título ao Stédile, está, mais uma vez, marcando ponto a favor do Movimento dos Sem-Terra. A necessidade da discussão sobre como fazer a reforma agrária neste País, sobre o que é necessário para revertermos o processo de concentração nos meios urbanos, que faz com que, cada vez mais, as pessoas se amontoem nas vilas nas grandes cidades, a discussão que se faz necessária para a volta ao campo - vemos hoje, aqui, muitos moradores das vilas de Porto Alegre que, certamente, têm sua origem no campo, no meio rural - está ligada à luta dos sem-terra.

O ato da Câmara de Vereadores de Porto Alegre, ao conceder esse título, é mais uma demonstração de que a Cidade de Porto Alegre é solidária com essa luta.

Nós queremos a volta ao campo, nós queremos redescobrir o campo, nós queremos redescobrir o meio rural. Nós não podemos continuar com a lógica de concentrar, cada vez mais, pessoas nos meios urbanos e de fazer com que o campo vire um grande deserto. Nós temos que voltar às origens, e o Movimento dos Sem-Terra traz em si essa idéia. A nossa homenagem a esse companheiro é uma prova de que a Câmara de Vereadores de Porto Alegre é a favor da reforma agrária.

Nós temos que fazer, também, um debate sobre o tipo de reforma agrária que nós queremos, sobre quais são os instrumentos necessários para, além de fazermos a reforma, darmos condições ao que vai ganhar um pedaço de terra no interior para que ele possa produzir, exportar e guardar a sua produção. Mas hoje é inegável que o exemplo que os companheiros do Movimento dos Sem-Terra estão dando para nós é um exemplo necessário. É com a luta, é com a mobilização desses companheiros que, na prática, está se fazendo a reforma agrária. É essa sinalização de apoio que a Câmara tem que dar, aprovando a outorga do título ao companheiro João Pedro Stédile. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Com a palavra o Ver. Pedro Américo Leal para discutir.

 

O SR. PEDRO AMÉRICO LEAL:  Sr. Presidente e Srs. Vereadores. Está em pauta, trazido pela Vera. Maria do Rosário, o nome de João Pedro Stédile para receber um título desta Casa. À primeira vista, todos os Vereadores, por uma questão de solidariedade, dão o “sim”. Por que o “não”, quando um colega submete à apreciação dos seus colegas um nome para ser distinguido?

Mas esta indicação é política, exclusivamente política. A Vera. Maria do Rosário trouxe para esta Casa um termômetro, uma medição. Quer saber como está, como funciona a Câmara de Vereadores quanto a uma proposição a um líder discutido como João Pedro Stédile quando é submetido seu nome ao conceito dos Vereadores. João Pedro Stédile - não é por estar longe de Porto Alegre há muito tempo, não, poderia até estar distante de Porto Alegre, nunca ter vindo a Porto Alegre, mas ele é um político muito discutido. Ele mandou que aqueles que não tivessem casa  invadissem os terrenos baldios, aqueles que estivessem desempregados entrassem nas fábricas e tomassem conta de tudo. Hesitou ao dizer “tomem os supermercados, peguem comida”. Baderna geral no País! Foi isso que esse homem fez. Ele, então, recuou e disse: “Postem-se, os que têm fome, diante dos supermercados e nada mais. Cruzem os  braços”...

É um homem perigoso, duvidoso. É um líder de 43 anos, economista aqui do Estado. Um homem que promete balbúrdias, ameaça, com perturbação da ordem, até a própria CNBB, que tem influência no PT - porque o PT foi formado exclusivamente pela linha eclesiástica. Hesitou, voltou, não tomou partido, criticou o líder. Então, Vera. Maria do Rosário, esse nome que V.Exa. colocou no Plenário é uma bomba! Uma bomba política para medir a reação de cada Vereador.

A minha reação eu não sei se é “não” ou “abstenção”. Ainda não decidi. Se fosse responder a V.Exa., eu mentiria, porque ainda não decidi. Não darei o “sim” porque esse nome foi um experimento, uma medição, uma temperatura tirada de cada Vereador dentro deste Plenário. A Vera. Maria do Rosário nos submete a uma dura prova porque colocou o nome de João Pedro Stédile - tirou-o não sei de onde - para poder saber qual vai ser a reação de cada Vereador. V.Exa., na minha opinião, não foi feliz. V.Exa. submeteu os seus colegas a uma dura prova de sinceridade ao dar o “sim” ou o “não”. V.Exa. foi politicamente muito infeliz ao sugerir o nome de João Pedro Stédile porque eu mesmo já tenho a convicção de que darei o “não” ou a “abstenção”. Não sei como vou-me colocar. Vejam: eu, que sou um homem de decisão,  nunca fico no muro, todo mundo sabe disso... Decido até errado, mas decido. Ninguém espere a minha decisão, porque não sei o que vou fazer. Eu estou entre a amizade, que deve dominar cada Vereador para com o outro, seu colega, e diante desse fantasma que surge no País, conturbando todo o clima político, que é João Pedro Stédile, um homem perigoso, um líder moço, duvidoso, ambicioso, que hoje em dia desponta no PT, muito maior que Lula.

Concluo dizendo que V.Exas. estão sendo postos à prova pela Vera. Maria do Rosário. A Vera. Maria do Rosário está submetendo cada um dos Vereadores a uma prova. Como responder? Foi hábil, foi inteligente, foi genial. Saiam dessa, Srs. Vereadores. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: O Ver. Guilherme Barbosa está com a palavra para discutir.

 

O SR. GUILHERME BARBOSA: Sr. Presidente, Srs. Vereadores, demais pessoas que acompanham a Sessão, acho que o debate trazido por essa proposta da Vera. Maria do Rosário é sem dúvida uma proposta importante e chega num momento também muito importante da Nação brasileira. Hoje não há dúvida de que a questão da terra no País, da terra urbana ou da terra rural, é um dos maiores problemas sobre o qual cada um dos brasileiros, com nível médio de consciência, deve-se debruçar. Nós temos uma das maiores, senão as maiores, concentrações de terra do mundo, onde milhares de latifúndios existem sem produzir sequer um quilo de arroz, um quilo de feijão, um  boi para mitigar a fome do povo brasileiro. Sabemos que 70% daquilo que vai para nossa mesa é produzido na pequena e na micropropriedade. Os latifúndios quando produzem o fazem para exportação, embora ainda produzam, o que é importante. Mas existe um grande número de latifúndios sem produzir nada, criando capim, criando grilo, como já disse alguém. Tem o SMT, hoje o mais importante e mais organizado movimento social do País, superando em muito até mesmo o movimento sindical que sempre foi a representação mais organizada do povo brasileiro. E liderando esse movimento - um deles, porque são vários - está o João Pedro Stédile.

Ver. Pedro Américo Leal, esta é uma Casa com várias representações políticas. Há aqui a representação dos vários pensamentos políticos da nossa Cidade. A nossa Cidade não é uniforme no seu pensamento. O que nós temos que avaliar é o nome da pessoa proposto para se tornar Cidadão de Porto Alegre, se ele tem ou não tem méritos, se ele carrega ou não consigo força, liderança com vontade. Sem dúvida nenhuma, João Pedro Stédile é tudo isso, um jovem, como V.Exa. disse, grande liderança, não só única, mas uma das grandes lideranças do Movimento Sem-Terra. Inclusive é gaúcho e, portanto, ele merece o título de Cidadão de Porto Alegre. Se nós fizermos uma avaliação, do nosso ponto de vista, nós estaríamos dizendo que a Cidade deveria ter representação apenas daqueles que pensam exatamente como nós. Não deve ser assim, de forma nenhuma, porque estaremos construindo uma população de iguais, de idênticos, e isso tem muita semelhança com o fascismo.

 

O Sr. Isaac Ainhorn: V. Exa. permite um aparte? (Assentimento do orador.) Vereador, eu quero dizer que concordo com o seu raciocínio. Acho correta a visão global que V.Exa. tem. Eu, particularmente, discuti favoravelmente a concessão desse título, mas eu não posso ficar alheio a todo um conjunto de fatos que passaram a acontecer e que criou uma dificuldade muito grande em relação à concessão de um título dessa natureza. Assim como eu discuti favoravelmente, eu também acho que não posso deixar de manifestar a minha posição. Eu acho que V.Exa. tem absoluta razão. Acho que o Movimento Sem-Terra tem a maior importância dentro deste País, mas não posso concordar neste  momento.

 

O SR. GUILHERME BARBOSA: Para encerrar, digo que as últimas manifestações do João Pedro Stédile não tiveram intensidade, como relembrou o Ver. Pedro Américo Leal, porque ele não chegou a dizer “invadam o supermercado”. Vejam: quem está faminto, tendo a frente de si um estabelecimento cheio  de alimentos, como acontece no Nordeste algumas vezes - quem pode fazer uma crítica dessa ordem? -, um faminto, tendo, à sua frente, comida, como deve se comportar? Mas ele foi suficientemente maduro, na conjuntura toda do País, para não mandar invadir, mas que se postassem à frente dos supermercados. Demonstrou, mais uma vez, ser um grande homem - João Pedro Stédile. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: O Ver. Cláudio Sebenelo está com a palavra para discutir.

 

O SR. CLÁUDIO SEBENELO: Sr. Presidente, Srs. Vereadores, gostaria de assinar  embaixo do que disse o Ver. Guilherme Barbosa, exceto  da  última frase.

Estou com  a “Folha de São Paulo” de hoje, de segunda-feira, que fala da questão da terra - quase todos os dias ela dedica uma página-, onde diz o seguinte: “Mílton Selligman pensa em parceria com o Movimento dos Sem-Terra”. Não para nós, mas para o movimento social, é um momento importante para se vir, com independência e com grandeza, sentar à mesa e dizer: “Nós divergimos em um milhão de coisas, mas há algumas coisas com as quais estamos de acordo; então, vamo-nos aprofundar nelas.”. Querem ver um exemplo? A indústria da reforma agrária. O Movimento é contra, denuncia. O Governo também é contra, porque está sendo roubado. Essa seria a oportunidade de uma parceria brilhante. O Movimento não vai se diminuir se fizer parceria com o Governo. É o momento da maturidade, de sentar à mesa.

Na coluna seguinte diz: “Rainha quer negociar com Fernando Henrique. O líder sem-terra José Rainha Júnior, 36 anos, defendeu, ontem, que o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra reveja a decisão de não participar da comissão proposta pelo Governo para discutir a reforma agrária. ‘Essa foi uma decisão tomada pelas bases do Movimento, mas precisa ser revista, porque a entidade deveria retomar o diálogo com o Governo’, afirmou. Rainha elogiou o novo presidente do INCRA e disse que está disposto a negociar com ele. ‘Ele me pareceu um cara inteligente, muito capaz, nas reuniões que tivemos. É interessado e articulador.” Aí eu pergunto para a Vera. Maria do Rosário, que, como diz o Ver. Pedro Américo, nos colocou nessa “sinuca-de-bico”: será que ela não errou de nome? Será que ela não quis homenagear José Rainha Júnior? Este foi conciliador. Acho que essa é a dificuldade maior. Não é um problema de ideologia, que é importante aqui, mas acho fundamental que se coloque, neste momento, que nós estamos em dúvida, nesta votação, entre o “não” e a “abstenção”, porque nós não queremos que esta Casa repila a proposta para um indivíduo ser homenageado pela Casa pelo que ele representa, mas porque ele não foi feliz como líder. Ao contrário, ele incitou a violência no momento em que os trabalhadores sem-terra estavam dispostos e fizeram uma marcha pacífica com uma grande demonstração de educação, competência e, principalmente, do que querem como trabalhadores sem-terra. É um movimento social importantíssimo.

 

O Sr. Pedro Américo Leal: V. Exa. permite um aparte? (Assentimento do orador.) Inclusive João Pedro Stédile foi estratégico. Ele pronunciou tudo o que acabou o País sabendo no momento em que o Presidente da República, que eu não apóio, estava fraco, no momento em que surgia a dúvida sobre a compra de votos ou não. Ele apitou a partida em cima do lance.

 

O SR. CLÁUDIO SEBENELO: Ver. Pedro Américo Leal, incitar a essa desobediência civil é absolutamente nefasto para o momento de democracia em que vive o País. Vejam que a imprensa é formalmente contra o Presidente da República, fala mal dele diariamente, com palavras acres. Ontem, por exemplo, o nosso candidato à Presidência da República pelo PT, Tarso Genro, disse que a proposta do Governo era do maior cinismo possível. Então, no momento em que há esse tipo de agressão, Vereador, como  vamos dar a uma pessoa que Porto Alegre conheceu por cinco anos, que não é de Porto Alegre, o título de Cidadão Emérito? Acho que, nesse momento, talvez não seja propícia essa atitude. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: O Ver. Reginaldo Pujol está com a palavra para discutir o PLL nº 002/97.

 

O SR. REGINALDO PUJOL: Sr. Presidente e Srs. Vereadores. Ortega y Gasset diz que o homem é um ser e as suas circunstâncias. Temos hoje aqui o exercício prático dessa colocação antológica. Vivemos uma circunstância específica sobre a qual temos que raciocinar. Inclusive, sentado na minha Bancada, relembrei há mais de vinte anos, quando Vereador pela primeira legislatura, e tentei homenagear um mestre de ilibadas qualidades pessoais, de grande expressão para a educação gaúcha.

 

O Sr. Pedro Américo Leal: V.Exa. tentou nesta Casa elogiar José Otão.

 

O SR. REGINALDO PUJOL: V.Exa. antecipa, na sua objetividade, o meu pronunciamento. Na ocasião, diante de uma circunstância de radicalismo, com tristeza, Ver. Sebenelo, via a então oposição na Casa, constituída pelo valente Movimento Democrático Brasileiro, conduzido pelo saudoso Ver. Glênio Peres,  tentar obter a derrocada  do nosso projeto de lei, que outra coisa  não buscava senão homenagear esse grande mestre que o Rio Grande todo venera e reconhece nele méritos inquestionáveis. Era a circunstância da época. O voto das oposições de então identificava equivocadamente em José Otão o símbolo dos anos de ferro, o símbolo dos anos de chumbo, o homem a serviço do estado de exceção que a Nação vivia. Hoje votamos na Casa o título honorário a João Stédile e o fazemos diante de uma circunstância presente assemelhada à circunstância que os nossos companheiros de oposição, na época, viveram, quando, contrafeitos, foram compelidos a votar contrários a nossa proposta. Hoje nós temos que decidir diante de uma proposta da Vera. Maria do Rosário, a qual busquei viabilizar, primeiro, convalescendo a iniciativa com a minha assinatura na proposição, segundo, votando favoravelmente na Comissão de Constituição e Justiça, onde o Projeto já era impugnado pelo Ver. João Dib e, ao fazê-lo, reservava-me discuti-lo sobre o mérito na ocasião oportuna. Não sabia eu, não podia prever que nesse meio tempo o homenageado nas intenções da Vera. Maria do Rosário haveria de se transformar emblematicamente na figura que propõe a reforma agrária fora da lei, na marra, com a invasão da propriedade, com o desrespeito ao estado de direito, transformando-se na contradita e no contraponto daquela que é a minha posição doutrinária, ideológica a respeito do assunto. Vivo a minha circunstância, a circunstância de que fala Ortega y Gasset. Certamente, em função daquela rejeição inopinada e indevida do nome do Prof. Irmão José Otão, deu-se a transformação no Regimento da Casa, com a exigência de pré-requisitos para que os nomes que aqui transitassem tivessem o apoio de todas as Lideranças. Era a cautela que se justificava para que fatos dessa ordem não se repetissem. Então, a tradição da Casa se endereçou no sentido de que as pessoas que viessem a ser objeto da homenagem da Casa pudessem ser,  além de relevantes os seus serviços para a Cidade de Porto Alegre, não propícias ao debate ideológico, que lamentavelmente se exacerba na Nação nos dias atuais e que tem, Vera. Maria do Rosário, no seu homenageado um dos expoentes máximos, senão o maior.

Mantendo a tradição que exerço nesta Casa de sempre votar claramente e colocando as minhas posições. Quero dizer, respeitosamente, à Vera. Maria do Rosário: lamentavelmente, eu, que pretendia honrar a nossa solidariedade e oferecer a contribuição do meu voto favorável, ao vê-la  produzir efeitos na sua intenção, estou na tribuna agora dizendo que lamentavelmente, nesta oportunidade, as circunstâncias determinam que eu fique com as minhas posições doutrinárias e ideológicas e não possa acompanhar as intenções respeitáveis da ilustre Vera. Maria do Rosário.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: O Ver. Carlos Garcia está com a palavra para discutir.

 

O SR. CARLOS GARCIA: Sr. Presidente e Srs. Vereadores, na oportunidade fomos Relator sobre a concessão do título de Cidadão Porto-Alegrense a João Pedro Stédile e, na ocasião, fomos favoráveis a esse título e continuamos sendo. Muito se tem falado das declarações desse líder que teria incitado a população do nosso País à questão da violência. Ele não chegou a incitar propriamente. Mas nos faz um alerta e, ao mesmo tempo, nos faz refletir que a população do Brasil, mais do que nunca, é uma população que está passando fome, uma população de famintos, que o direito à terra é um direito sagrado. Hoje fiquei muito feliz em ler nos jornais que a Igreja Católica está distribuindo parte de seus bens para o Movimento Sem-Terra. Já não era sem tempo e urge que outras entidades façam o mesmo. Ao mesmo tempo, ontem, na França, um novo chamamento: a vitória do Partido Socialista, que nos faz pensar que pode estar surgindo um novo paradigma, porque o novo governo lá, na França, hoje tem três milhões de desempregados e problemas financeiros e sociais e, basicamente, a vitória do socialismo se deu por uma tentativa da população que está em todo o mundo desempregada.

Mais do que nunca, gostaríamos de enfatizar que a proposição da Vera. Maria do Rosário foi política e ideológica, mas, ao mesmo tempo, esse líder desse movimento que hoje, sem dúvida nenhuma, é o movimento mais organizado do nosso País nos faz refletir sobre a  carência da nossa população e sobre a  necessidade que todos temos de direito à moradia. Que o Movimento dos Sem-Terra se estenda, também, à questão urbana, porque o direito  à moradia é tão direito quanto  a questão dos sem-terra. Muito obrigado.

 

(Não revisto pela orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: A Vera. Clênia Maranhão está com a palavra para discutir.

 

A SRA. CLÊNIA MARANHÃO: Sr. Presidente e Srs. Vereadores, eu resolvi fazer esta discussão sobre o título a João Pedro fundamentalmente pela intervenção feita pelo Ver. Pedro Américo Leal. Ela me fez pensar que a fantasia, às vezes, é bem maior do que a realidade e que, quando a fantasia se coloca sobre uma ação política de um segmento social, é uma demonstração de que a nossa discussão política sobre a questão urbana, sobre a questão agrária brasileira, ela ainda é uma discussão política que ainda vai ter que avançar muito para se chegar ao grau da modernidade das discussões que são feitas hoje em outras sociedades.

A sugestão da Vera. Maria do Rosário é uma sugestão completamente natural, compreensível do ponto de vista do partido e da posição política da Vereadora. E eu acho que as indicações dos títulos têm sido nesta direção. Há algum tempo, nesta Casa, temos aprovado - pelo menos na última legislatura, desde que eu faço parte - os títulos assim. Os Vereadores, com base na sua ótica política, na sua visão do conhecimento da trajetória de algumas pessoas, fazem esta indicação como reconhecimento do trabalho que elas desenvolvem. E há muito tempo, nesta Casa, nós não entregamos o título de Cidadão Emérito apenas àquelas pessoas que têm um desempenho específico no Município de Porto Alegre. Isso é uma prática política que tem sido feita aqui. É o reconhecimento de algumas pessoas que têm tido uma prática política de destaque dentro de um marco mais amplo, do qual Porto Alegre faz parte. Essa tem sido a regra do jogo, assim têm sido feitos os encaminhamentos. Então, acho que é legítima a indicação de João Pedro Stédile, gaúcho, de Porto Alegre e de renome nacional e que tem uma luta que é fundamental, a reforma agrária. Se vocês me perguntarem se eu concordo com a estratégia  de luta do Stédile, eu vou dizer que tenho uma série de divergências na análise dos procedimentos, de como ele conduz o movimento. São divergências do ponto de vista do encaminhamento da luta. Acho que poderia ser mais eficaz se fosse feita uma política mais ampla, que integrasse mais o conjunto da sociedade, mas é uma avaliação política minha. Não fui eu quem indicou o Stédile. Eu respeito e concordo com a luta que tem como objetivo final a reforma agrária. Na verdade, estamos ainda colocando essa discussão nos termos que alguns Vereadores aqui colocaram, que é uma discussão um pouco anterior ao próprio momento político que o Brasil vive hoje. O último grande ato dos sem-terra acabou com a discussão de negociação entre governos, evidentemente construído por essa mobilização. Eu lia, hoje, uma declaração do Milton Seligmam, que achei interessante, colocando dentro das estratégias de avanço da reforma agrária a sua parceria com os movimentos que lutam pela reforma agrária, entre eles, evidentemente, o Movimento dos Sem-Terra. Na verdade, estamos discutindo um assunto importante, e é necessário, para aprofundar os mecanismos mais eficazes que vão levar à reforma agrária. E hoje a Igreja fez um depoimento importante sobre a sua decisão em relação à autorização  para a utilização das  suas terras, que é uma coisa questionada há muitas décadas neste País. É um assunto da maior atualidade e da maior importância política e acho que a Vereadora está dentro da sua atuação política. A Câmara de Porto Alegre, dando o título para o Stédile, vai cumprir uma trajetória que sempre teve, de dar o título a pessoas  de reconhecimento público indicadas pelos Vereadores, assim como já demos a outras pessoas que, do ponto de vista ideológico, tinham posições  bastante contraditórias. É isso democracia, é essa a representação que esta Casa tem e deve continuar tendo.

Se alguns erros temos cometido aqui, é no sentido de não fazer com radicalidade a representação realmente diversificada e múltipla do Parlamento em Porto Alegre. Muito obrigada.

 

 (Não revisto pela oradora.)

 

O SR. PRESIDENTE: A Vera. Anamaria Negroni está com a palavra para  discutir.

 

A SRA. ANAMARIA NEGRONI: Sr. Presidente, Srs. Vereadores, Srs. visitantes.  Conversando com os colegas, como nova Vereadora, temos visto que o título de Cidadão Emérito tem sido dado a várias pessoas que realmente fizeram alguma coisa pela nossa Cidade, pessoas que realmente tenham merecido esse título. Conversando com Vereadores da Casa em relação ao Projeto da Vera. Maria do Rosário, nós o analisamos e, tendo seguido a mídia com relação ao Movimento dos Sem-Terra - não somos contra, acreditamos que, com tanta terra que tem este País, esta deva ser realmente mais bem distribuída -, consideramos que não podemos aplaudir o movimento do MST como ele tem sido feito pelos seus líderes, como José Rainha e, agora, o cidadão Stédile. Exatamente por isso, desde o momento da proposição, nós nos voltamos contra a idéia e, perguntando aos Srs. Vereadores da Casa, nos demos conta de que era norma se votar a favor de projetos desse estilo. Isso ocorre por razões ideológicas e outras, como foi colocado aqui por vários Vereadores.

O problema é que o Sr. João Stédile não é uma pessoa que mereça ganhar este título de Cidadão Emérito desta Cidade tão maravilhosa que é Porto Alegre. Nós vemos em tantos recortes de jornais que ele, Stédile, é simplesmente visto como um incitador da violência neste País. As últimas declarações infelizes que ele deu coloco aqui de uma forma muito, mas muito, terrível e que devemos punir porque, além de ter falado em vários jornais - as entrevistas foram gravadas -, depois distorceu as notícias, dizendo que elas não eram verdadeiras e que não tinha sido bem assim que foi dito. Temos, dentro da mídia, como declarações verdadeiras e que foram gravadas. São incitações à violência. Portanto, é previsível em nosso Código Penal como crime a incitação à violência e as demais argumentações do Sr. Stédile.

Então, não podemos concordar, de forma alguma, sob pena de cair na vulgaridade, com esse título de Cidadão. Nós, dando uma olhada na  nominata de cidadãos que receberam este título nesta Cidade, vimos que nem todos o mereciam,   mas foram aprovados aqui dentro. Por esse motivo, peço aos Senhores que pensem bem, reflitam muito a respeito de um homem antidemocrático, um  cidadão da violência, inclusive, como foi dito hoje... A Bíblia refere-se ao direito da alimentação,  em que parte autoriza certas invasões, abates de animais nas propriedades ocupadas e assassinatos. A  própria  Bíblia  autorizou  alguma  coisa  nesse  sentido: “Comerás do pão com o suor do teu rosto”. Conclui-se daí que, para ter direito ao alimento, existe o dever do trabalho. O Stédile não tem o direito de receber um pergaminho, um diploma, uma medalha de ouro desta Cidade como Cidadão Emérito de Porto Alegre. Muito obrigada.

 

(Não revisto pela oradora.)

 

O SR. PRESIDENTE: O Ver. Adeli Sell está com a palavra.

 

O SR. ADELI SELL:  Sr. Presidente e Srs. Vereadores, de fato, para que o povo possa comer pão, para que o povo possa ter no seu dia-a-dia um minguado de arroz com feijão, ele tem suado o seu rosto, tem as mãos calejadas, as costas envergadas, porque neste País e neste mundo infelizmente muitos labutam e trabalham diariamente enquanto alguns usufruem desse trabalho. O título de Cidadão para  João Pedro Stédile, um dos líderes do Movimento Sem-Terra, justifica-se porque ele é um nome, um líder, uma pessoa que nasceu no nosso Estado, em Nova Prata, morou aqui, estudou aqui e hoje é uma liderança. Não podemos  dar título de Cidadão de Porto Alegre  apenas para pessoas com que alguns de nós concordamos política e ideologicamente. Vamos dar títulos, como estávamos dando aqui, nesta Cidade, pelos méritos pessoais. E faço um apelo àqueles que têm dúvidas: meus caros Vereadores Pedro Américo Leal, João Carlos Nedel, Isaac Ainhorn e outros que demonstraram aqui suas dúvidas, quero chamá-los, meus caros Vereadores Reginaldo Pujol e Cláudio Sebenelo, para que possamos dar o título a João Pedro Stédile, do Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra, como um símbolo do nosso reconhecimento por essa árdua batalha em nosso País para conquistar um pedaço de terra  e poder produzir, trabalhar nela, ganhar decentemente o pão com o trabalho e o suor do nosso rosto, para, inclusive, meus caros Vereadores, nas divergências que os Senhores aqui apresentaram ao nome de João Pedro Stédile, poder melhor dialogar com ele, melhor dialogar com o Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra e, inclusive, melhor, e com toda autoridade, cobrar posicionamentos que talvez nos façam ter diferenças, não só dos Senhores com o Movimento dos Sem-Terra, mas também, muitas vezes, do próprio Movimento, de seus líderes entre si, porque muitas vezes uma tática, uma estratégia não é necessariamente do consenso do próprio Movimento. Jamais seria consenso numa Câmara plural, com 33 Vereadores, eleitos por nove partidos diferentes. Devemos dar esse título de Cidadão Porto-Alegrense para sinalizar à sociedade que aqui votamos por pessoas que têm história e trajetória, mesmo que tenhamos diferenças político-ideológicas. Temo que, qualquer dia desses, entraremos nessa disputa  apenas  de visões políticas, não analisando a trajetória de pessoas. As pessoas às quais nominaremos com títulos são pessoas que têm responsabilidades sociais em nosso País. E vimos que João Pedro Stédile não propôs o que disseram os jornais. Houve desvirtuamento das suas declarações, porque amanhã, em  uma declaração que fizermos e formos desvirtuados, não poderemos ter eco aqui dentro desta Casa e analisar apenas o que um ou outro jornal falou e não o que o Vereador, de fato, disse e pensa.

Por isso, eu, que sou pacifista, que luto pela paz, que quero harmonia e solidariedade entre os povos, quero ver esse título concedido a João Pedro Stédile como um símbolo da luta dos trabalhadores sem-terra para conseguir um pedaço de pão, arroz, feijão e carne, substâncias necessárias para que os nossos filhos, os filhos deste País não passem fome e miséria. Que a gente possa olhar para o futuro com sonhos, com expectativa de vivermos numa nação livre e soberana, igualitária e justa. Portanto, caros Vereadores que aqui se opuseram inicialmente nos seus pronunciamentos, faço um apelo veemente a V.Exas. para que reflitam e para que somemos os nossos votos, um voto que agrega, que soma, que diz “sim” pela solidariedade àqueles que hoje nada têm, mas que amanhã poderão partilhar o pão com todos nós. Muito obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: O Ver. Elói Guimarães está com a palavra para discutir.

 

O SR. ELÓI GUIMARÃES: Sr. Presidente, Srs. Vereadores, após ler nos jornais as declarações atribuídas ao líder dos sem-terra, João Pedro Stédile, eu vim à tribuna para censurar o Pojeto que visa dar a ele o título. E no meu pronunciamento eu apresentei dados da história e disse também - embora tendo posição contrária às políticas do Presidente da República - que não interessa a ninguém desestabilizar o Presidente da República. Nós podemos ser contrários, mas jamais desestabilizar, porque nós sabemos que com a desestabilização o sistema cai na mão da ditadura. Mas há informações e dados de que o Sr. Stédile não teria colocado da forma como colocou. A própria CNBB se manifestou a esse respeito. Então, Sr. Presidente e Srs. Vereadores, esclarecido este fato, não podemos  ignorar que se trata de um líder do Movimento Sem-Terra o economista Stédile, que é um homem competente e vem fazendo um trabalho importante no País. É bom que se diga que o único país que não fez reforma agrária foi o Brasil. Todos os países fizeram reforma agrária. E tenho dito que a reforma agrária é uma tese capitalista. Porque o que se busca na reforma agrária? Ter a propriedade da terra? E como é bom a propriedade, desde que seja para todos! Essa é a grande questão. A propriedade é boa  para todos. Então, é isso o que busca esse grande Movimento no sentido de fazer com que o homem tenha o acesso à terra.

Então, Sr. Presidente e Srs. Vereadores, a questão não haverá de ser esse episódio, onde ele retira a sua declaração, feita, talvez, num momento infeliz  ou de entusiasmo, mas parece que não ratifica, não confirma essa declaração. Então, eu retomo o meu entendimento anterior. Eu havia dito à autora da homenagem, Vera. Maria do Rosário, que poderia contar com o meu voto, e pode contar com ele, porque entendo que alguma coisa se deve fazer em termos de  reforma agrária. E o PDT tem uma tradição de reforma agrária, pois a primeira reforma agrária, séria e responsável  neste País, foi feita pelo meu grande líder Leonel Brizola, que a fez no banhado do colégio. O PDT tem um compromisso com a reforma agrária. É verdade que temos os nossos métodos. Não preconizamos, por exemplo, a invasão de terras, mas preconizamos a pressão e o acampamento. Então, são métodos do PDT, a sua visão sobre a reforma agrária: pressão para que saia a reforma agrária, acampamentos nas estradas. Não invadimos terras. Não é o nosso método político-ideológico.

Sr. Presidente e Srs. Vereadores,  entendo que, pelo que o João Pedro Stédile tem feito em termos de luta, tentando tirar este País da situação em que se encontra, é nesse sentido que vou votar favoravelmente, Vera. Maria do Rosário. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Inscreve-se a  Vera. Tereza  Franco, que cede o seu tempo ao  Ver. Isaac Ainhorn.

 

O SR. ISAAC AINHORN: Sr. Presidente e Srs. Vereadores, é verdade que o Projeto de Lei da Vera. Maria do Rosário tem um caráter político inegável. Não vamos retirar da política aquilo que ela tem: o conteúdo político de cada decisão, de cada ato nosso no cotidiano de nossos votos e das nossas manifestações.

Compareço aqui, nesta tribuna, no dia de hoje, para me manifestar sobre esse assunto. Eu já havia discutido anteriormente e, se estou aqui na tribuna, agradeço à Vera. Tereza Franco, que, gentilmente, me cedeu o seu tempo, podendo eu discutir novamente esse Projeto. Quando discuti pela primeira vez esse Projeto, discuti favoravelmente. E aqui guardo, exatamente, Ver. Elói Guimarães, uma coerência. Naquela oportunidade, disse que o Sr. João Pedro Stédile era merecedor do título de Cidadão de Porto Alegre, embora não tivesse uma ligação maior diretamente com uma ação comunitária dentro da Cidade, mas o tinha com um movimento social da maior importância e da maior envergadura. Dias depois, o Sr. João Pedro Stédile dá uma declaração, talvez num momento daqueles de exaltação maior, conclamando os sem-teto de todas as cidades a ocuparem todos os terrenos baldios como forma de pressionar o Governo a resolver o problema habitacional. Recomendou, ainda, aos desempregados urbanos com fome que ocupem os supermercados para garantir um direito que está na Bíblia, de que todo homem tenha o que comer. As  manifestações foram muito fortes. Tanto foram fortes que, posteriormente, ele as negou, mas a marca da versão da manifestação inicial ficou muito forte, pois foi gravada e televisionada pelos canais de rádio e televisão do País. Com razão refere o Jornalista Walter Galvani, numa crônica de sua autoria: “Em momento de extrema fraqueza, ou por ter, por uma distração, baixado sua guarda mental, o líder do Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra, João Pedro Stédile, deixou fluir o incitamento à invasão de fábricas, de supermercados e terrenos baldios. Isso, para ele, resolveria a exclusão dos desempregados, dos esfaimados, dos sem-moradia. No dia seguinte, preocupado com as reações da sociedade, que ele tenta conquistar, e com as conseqüências legais do que disse, Stédile reuniu a imprensa para tentar explicar o inexplicável. Com um advogado ao lado, ele, politicamente, disse ter sido mal-compreendido e deu uma recuada, amenizando sua fala do dia anterior. A fala original do Sr. Stédile não foi nada surpreendente. Pode ter sido para os  ingênuos. Aqueles que imaginam as lideranças do MST como poços de pureza, inspirados  pelos céus na busca da  igualdade entre os seres humanos, têm que entender que o Sr. Stédile busca, mesmo, a rebelião das massas, quer derrubar este Governo e todos os governos, no melhor estilo leninista.”. Não sou eu quem está afirmando, Vereador. Essa é uma  afirmativa do Jornalista Walter Galvani, um homem conhecido como  jornalista, um homem de esquerda. O que o líder do MST fez, disse Walter Galvani, foi simplesmente dizer às pessoas que o caminho é a quebra do estado de direito, quando se sabe que tudo deve ser conduzido pelos canais legais. Se esses canais são ineficientes ou equivocados, a luta deve ser para substituí-los por outros, dentro da legalidade, dentro do estado de direito. E segue: “As lutas de Vicentinho, na CUT, por exemplo, são muitas vezes ásperas, contra  estruturas empresariais, mas estão perfeitamente enquadradas dentro do estado de direito.”. É importante esse paralelo entre Vicentinho, essa grande e inegável liderança sindical, e a manifestação de questionamento do estado de direito. Depois, habilmente, procurou recuar, pelas repercussões.

O meu Partido tem uma história em torno da reforma agrária. Com orgulho digo que não foi só a história de Leonel Brizola, com as suas experiências agrárias aqui no Rio Grande do Sul, mas foi quando João Goulart caiu por ter enfrentado duas grandes estruturas deste País.

Gostaria de saber se o Ver. Eliseu Sabino me cederia o seu tempo.

 

O SR. PRESIDENTE: O Ver. Eliseu Sabino se inscreve e cede a V.Exa. o seu tempo.

 

O SR. ISAAC AINHORN: Muito obrigado, Ver. Eliseu Sabino.

No célebre comício de 3 de março, Ver. Pedro Américo Leal, nós estávamos em campos opostos, mas por equívocos, porque, do nosso lado, nós cometemos equívocos, e o seu lado cometeu outros tantos equívocos. É por isso que nós nos entendemos tão bem hoje.

Vera. Clênia Maranhão, para quem tem, sobretudo, um passado de coerências, deve-se saber que o Governo João Goulart enfrentou o latifúndio quando determinou, por meio de uma de suas mais importantes medidas, não a desapropriação de terras longínquas, mas a desapropriação das melhores terras do País, das terras localizadas às margens das rodovias e dos açudes em todo o País, que não fossem produtivas. Aquela foi a mais importante iniciativa de revolução agrária praticada neste País. Por essa razão, essa medida de João Goulart foi determinante na sua derrubada. Talvez nós conseguíssemos o apoio de alguns segmentos do lado que era representado, na época, pelo Coronel Pedro Américo Leal, se ficássemos na defesa da soberania nacional, aliando a isto a luta por uma melhor distribuição da renda e das terras neste País. Mas nos desestabilizaram, criando confrontos naquilo que, sobretudo, para as Forças Armadas era muito importante: a hierarquia. A quebra da disciplina foi um equívoco que nos embutiram e que nos levou ao enfrentamento, porque ninguém mais do que o Exército Brasileiro tem tido uma posição em defesa da soberania nacional, em defesa de uma melhor distribuição de renda nesta terra, até porque o Exército Brasileiro tem uma natureza bem distinta da de outros exércitos, como o de castas, que é o Exército Argentino. O Exército Brasileiro tem uma característica de identificação com a classe média, com os setores populares, humildes. Muitos deles ascenderam dentro da hierarquia militar através do estudo, da educação. E nós, trabalhistas, temos como pedra básica do nosso projeto governamental a educação. Consideramos que só se liberta um povo através da educação, do conhecimento. Essa é a nossa visão.

Portanto, Vera. Maria do Rosário, retornando à questão criada pelo seu Projeto de Lei, se há algumas semanas atrás discuti favoravelmente pela importância social que tem o Movimento dos Sem-Terra, apesar de, muitas vezes, alguns excessos  praticados, mas reconhecendo que o problema da terra era muito importante e que isso tinha repercussão numa cidade política como Porto Alegre, eu votava a favor da indicação de João Pedro Stédile para Cidadão de Porto Alegre. No entanto, as declarações posteriores nos levaram, se assim quer V.Exa, a ideologizar esse título. O PT aprendeu, no convívio parlamentar, no convívio administrativo, que em certas circunstâncias de concessão de título e outras honrarias não deve ser tão intransigente. Pertenço a um tempo nesta Casa em que a denominação de Moisés Vellinho ao Arquivo Histórico de Porto Alegre, de autoria deste Vereador, foi vetado, porque Moisés Vellinho  era um representante da “burguesia atrasada”. Esta era a sustentação de uma concepção fascista da história.

Mas, felizmente, o PT mudou. Nisso melhorou, avançou, compreendeu que as coisas não se resolvem dessa maneira. Mas, infelizmente, no caso concreto desse título de Cidadão de Porto Alegre, criou-se uma situação muito peculiar. Por uma questão de correção, já que eu havia discutido favoravelmente a essa indicação e agora eu dar um voto no sentido contrário geraria uma circunstância de incompatibilidade entre  o meu discurso e o meu voto, é em nome dessa harmonia entre discurso e voto que me considerei no dever ético de comparecer a esta tribuna para definir as razões da mudança da ótica em relação ao Projeto de Lei de V.Exa. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Inscreve-se o Ver. Paulo Brum e cede seu tempo ao Ver. Gerson Almeida, que está com a palavra para discutir o PLL nº 002/97.

 

O SR. GERSON ALMEIDA: Sr. Presidente e Srs. Vereadores, antes de qualquer coisa, quero agradecer ao Ver. Paulo Brum pela gentileza da cedência de tempo, porque já havia me inscrito na Sessão passada para discutir o tema e  passei o  tempo à Vera. Maria do Rosário.

É muito difícil, de fato, ao discutir o título de Cidadão para um dos principais dirigentes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra, que não se caia no terreno do debate político sobre a reforma agrária, sobre a sua importância e sobre os vários métodos que até hoje foram testados, foram defendidos, para que a reforma agrária seja, efetivamente, realizada em nosso País, um país continental que, como sabemos, é um dos poucos países, senão o único da América Latina, que não fez, ainda, a sua reforma agrária. Independente de posições políticas, da caracterização que se faz do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra, isso é um problema para o desenvolvimento econômico e social do País. Está demonstrado que as pequenas propriedades são infinitamente mais produtivas e permitem uma ocupação muito maior de mão-de-obra. Esse é o padrão de propriedades dos países da Europa. No entanto,  a reforma agrária carrega uma coisa interessante de registrar: não há uma única pessoa contrária a ela. Talvez seja por isso que ela ainda não tenha sido realizada. Eu estou abordando essas questões porque, mesmo sendo difícil, eu pretendo não fazer uma distinção sobre a reforma agrária quando estamos discutindo o título de Cidadão Emérito para uma pessoa emérita e importante na luta política e social no País, concordemos ou não com sua causa, concordemos ou não com os métodos que usa. Uma Câmara de Vereadores naturalmente deve ser plural. Eu já votei aqui título de Cidadão Emérito a pessoa que sequer conhecia, o que não diminui o seu mérito e a importância da homenagem No entanto, não sei se pensa sobre a reforma agrária o mesmo que penso, não sei se pensa sobre o mundo e a vida o mesmo que penso, não sei se  temos qualquer identidade pessoal, política, ideológica ou cultural, mas votei nessa pessoa porque,  no exercício da nossa disponibilidade de propor um título por ano, se é regimental e legal, eu tenho por conduta votar a favor da  concessão do título, exceto se essa pessoa cometeu algo que atente à humanidade. Aí vão comentar que Pedro Stédile  esteve envolvido, há algum tempo, numa grande disputa nacional em que teria feito determinadas declarações. O João Pedro Stédile pode ter muitos defeitos - acredito que tenha, como todos os humanos -, mas não tem um, que é o de desdizer o que disse. Inclusive, ele tem pago um preço alto pelo que diz. Ele e o Movimento dos Trabalhadores Rurais têm pago um preço muito alto por sustentar opiniões  muitas vezes contra a opinião pública, contra o senso comum. Então, disseram que ele havia dito tal coisa, mas ele contestou e repetiu os termos que havia dito. Era uma platéia da Universidade Federal que o escutava. Muitos repetiram aquilo que ele havia dito. Ou seja, não podemos condenar um homem público - e aqui essa questão deve ter eco - por declarações que a imprensa divulgou e que ele não disse. Nós sabemos quantas vezes nós próprios já fomos vitimados com situações como essa.

Eu concluo dizendo que  o Ver. Pujol tinha uma posição e, em função desse episódio, mudou de posição. O Ver. Pujol deveria, a meu juízo, manter a posição favorável porque, se o motivo são aquelas declarações, aquelas declarações o Líder do Movimento dos Sem-Terra não as fez tal como a imprensa divulgou, ou seja, sequer esse motivo temos para votar contra esse Projeto da Vera. Maria do Rosário. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: O Ver. João Motta está com a palavra para discutir.

 

O SR. JOÃO MOTTA: Sr. Presidente e Srs. Vereadores, eu fiz questão de me pronunciar a respeito desse Projeto até para informar às cidadãs e aos cidadãos que acompanham esta Sessão. Na verdade, nós estamos votando em Porto Alegre mais um título de cidadania, no caso, título honorífico, que vai se somar aos, aproximadamente, duzentos cidadãos e cidadãs que já receberam o título desde o dia 22 de dezembro de 1955, que foi quando, por lei, foi criado o título honorífico de Cidadão de Porto Alegre. A primeira pessoa a receber esse título foi a Sra. Lídia Moschetti. Dos cidadãos que já receberam o título, destacam-se aqui José Pinheiro Borba, Elias Cirne Lima, Érico Veríssimo, Mário Quintana, Guilhermino Cézar, Procópio Ferreira, Dom Vicente Scherer, Paulo Roberto Falcão, Celestino Goulart, ex-Secretário da Justiça do Governo Amaral de Souza, Paulo Velhinho, Cândido Norberto, um conhecido jornalista, Paulo Lumumba, ex-jogador do Grêmio, Coronel Darso de Moraes Dutra,  Nélson Mandella, Ibsen Vaz Pinheiro etc. Depois temos mais uma lei que institui o título honorífico, e aí teremos uma outra lista de cidadãos que já receberam esse tipo de homenagem. Vamos pegar apenas alguns exemplos. O primeiro a receber foi, em 1980, o Sr. Raul Cauduro, no dia 13 de junho. O segundo foi o professor Alberto André, um jornalista conhecido de todos nós. A família Sirotsky já recebeu. O professor Carlos Jorge Appel, ex-Secretário de Cultura do Estado, Túlio Piva, compositor gaúcho de Porto Alegre, e  Pinho de Azevedo já receberam o título.

Enfim, Sr. Presidente e Srs. Vereadores, o tempo é curto e vou apenas fundamentar as razões por que considero completamente equivocado votar contra esse tipo de homenagem. Se eu fosse extrair da vida do Cardeal Dom Vicente Scherer uma declaração para fundamentar a minha posição contrária a que Dom Vicente recebesse algum dia alguma homenagem da Cidade, eu estaria cometendo uma injustiça, porque a finalidade, e eu não estou nem tendo tempo de ler a fundamentação desses projetos, mas a finalidade pela qual a Câmara, nas décadas de 50 e de 70, instituiu esses prêmios foi para reconhecer a trajetória da vida desses cidadãos e não pegar, por exemplo, numa tarde uma declaração ou ato concreto desse cidadão, a não ser que seja um caso de absoluto extremo. Por exemplo, se Dom Vicente Scherer tivesse cometido um ato completamente inusitado e inaceitável socialmente, aí se justificaria nós questionarmos se Dom Vicente Scherer deveria ou não receber esse título. Portanto, sou totalmente contrário a esse método.

Esse Projeto já esteve em discussão e eu não saberia dizer por quantos dias. Os Vereadores já tiveram a oportunidade de  opinar, inclusive, se deveria ser impugnado esse ato da Vera. Maria do Rosário. Até o presente momento, não houve nenhuma impugnação, porque não há como método, aqui na Câmara, um Vereador apresentar um  título de Cidadão a um cidadão qualquer, como, por exemplo, Dante De Laitano - me vem o seu nome -, e fazermos aqui uma pesquisa detalhada se algum dia Dante De Laitano fez uma declaração feliz ou infeliz. É completamente absurdo, na minha opinião, esse método. Se o Paulo Roberto Falcão e o Paulo Nunes, um dia, por terem perdido uma partida, ao serem entrevistados, derem uma declaração  infeliz, aí não vão receber o  título? Por isso que é totalmente injusto os Vereadores deixarem para tomar esse tipo de decisão no último dia, porque agora o quórum é qualificado, são 22 votos, e é  muito fácil não dar quórum para aprovar esse  tipo de projeto. E vai ser um precedente grave aqui, na Câmara, porque pela primeira vez, desde 59, estaremos estabelecendo esse método que avalia se o cidadão merece um título simbólico da Câmara, ou não, por uma declaração de quinze segundos, por mais infeliz que tenha sido essa declaração. Certamente, algum dia Dom Vicente Scherer deve ter feito alguma declaração infeliz, mas nem por isso a Câmara ousou votar contra. Por isso acho equivocado esse método que alguns Vereadores estão usando para se posicionar contra essa entrega simbólica desse título a essa  grande liderança nacional. Obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: A Mesa sente-se na obrigação, no doloroso dever de pedir aos Vereadores que aqui estão em reunião para que acabem com a mesma, porque vários Vereadores reclamaram. Solicito silêncio. A Vera. Maria do Rosário é autora do Projeto e seguramente estava tratando de assuntos relacionados. É difícil ficar pedindo silêncio, mas o esforço do Ver. Motta foi admirável, e do Ver. Pedro Américo, em conseguir captar o seu discurso. Então, solicito aos Srs. Vereadores que não façam reuniões paralelas aqui.

O Ver. José  Valdir está com a palavra.

 

O SR. JOSÉ VALDIR:  Sr. Presidente e Srs. Vereadores, em homenagem ao Ver. Pedro Américo Leal, já chego falando. Lembro-me que há um tempo, quando o  Movimento Sem-Terra lançou as palavras de ordem “ocupar” e “resistir”, isto foi um escândalo, radicalismo. E pergunto hoje quem não admite que essas  palavras de ordem, que essa  tática de luta não só estava correta como foi a única possível para chamar a atenção para o cumprimento da Constituição e o cumprimento da reforma agrária, que está prevista na Constituição?             

 

O SR. PRESIDENTE: Solicito ao Ver. Fernando Záchia, à Vera. Clênia Maranhão, ao nosso Embaixador que parem de conversar. V. Exas. me perdoem, mas eu mesmo não consigo escutar o orador. Existe a tribuna ou a sala ao lado. V.Exa. está faltando com o respeito. As pessoas sabem julgar.

Com a palavra, o Ver. José Valdir.

 

O SR. JOSÉ VALDIR: O argumento é de que o Stédile teria mandado ocupar os vazios urbanos. Não vou discutir se ele fez ou se não fez isto, mas, se disse, está correto, porque o vazio urbano está para o meio urbano como está o latifúndio improdutivo para a questão agrária. É a  mesma questão que se coloca: é a ausência do cumprimento daquilo que está na Constituição, da função social da propriedade, tanto no campo, quanto na cidade. Então, se ele disse ou não disse, para mim, esta é uma questão menor, porque na visão deste Vereador a reforma agrária e a reforma urbana vão sair em decorrência da própria luta. Porque sabemos que num país como o Brasil, de capitalismo dependente, essas reformas, apesar de serem burguesas, como disse o Ver. Elói Guimarães, são reformas difíceis que, sem pressão, sem um movimento popular, não saem. Acredito que, mesmo que ele tivesse dito isso, é compreensível nas condições de desenvolvimento do nosso capitalismo dependente e subalterno.

Acredito que não é essa a questão de mérito. O que se discute é se nós, pela primeira vez, vamos estabelecer um limite para conceder esse tipo de homenagem, porque desde que eu conheço esta Casa nunca se fez nenhum tipo de exigência ideológica. Por aqui têm desfilado títulos, sendo aprovados por esta Casa, de extrema direita, extrema esquerda sem nenhum problema. Inclusive a nossa Bancada tem votado. Se o  Ver. Isaac diz que nós aprendemos, eu o saúdo. Mas se a Câmara votar contra esse título, quem não aprendeu é quem votar contra o resto da Câmara, porque  nós aprendemos que esta Casa é uma Casa plural e que não podemos fazer esse tipo de exigência, porque senão daqui para frente teremos que estabelecer um limite claro: que só vamos conceder títulos aos moderados ou àqueles apolíticos ou aos analfabetos políticos que são contra a política. Vejam a contradição numa Casa que é plural e política. Nós, Vereadores, podemos aqui estar estabelecendo um precedente muito sério, e o que está por trás disso tudo é uma visão extremamente conservadora, o velho ranço, aquele de dizer: “os movimentos sociais são legítimos, são bons, o MST, como foi dito, é lindo e  maravilhoso, quem  não presta são as lideranças”. Porque por trás está a velha visão conservadora, reacionária de que o povo, os movimentos sociais e os sem-teto da cidade são conduzidos e manipulados por lideranças infiltradas. É um velho ranço, aquele que todos nós conhecemos, que está por trás. Se esta Casa hoje não der esse título por unanimidade ao companheiro Stédile, estará cometendo dois erros: o primeiro, porque já estará  estabelecendo um precedente muito grave e sério que depõe contra a democracia e o pluralismo desta Casa; o segundo, porque vai estar reforçando esse ranço reacionário e conservador que todos nós queremos ver extinto da  realidade político-social do nosso País. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: O Ver. Pedro Ruas está com a palavra para discutir o PLL nº 002/97.

 

O SR. PEDRO RUAS: Sr. Presidente e Srs. Vereadores, quero desde logo anunciar que voto favoravelmente ao Projeto da Vera. Maria do Rosário pelos méritos do militante social - já bastante explicitados desta tribuna - João Pedro Stédile e por entender que é uma posição coerente com o a história de quem vê no Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra uma ponta avançada do movimento social e da maior qualidade. Mas eu me permito divergir, e acho que é importante para o debate, já que anunciei o voto, já que anunciei a minha posição e já que, sinteticamente, dei a motivação dela, que é divergir, Ver. José Valdir, de algumas colocações que foram feitas com relação à obrigação do voto.

Nós temos nitidamente, numa comunidade plural como é a Câmara de Vereadores, divergências com relação a aspectos históricos, políticos e, fundamentalmente, ideológicos. Eu nunca cobrei, e estou no terceiro mandato nesta Casa, o voto dos meus colegas,  assim como não admito ser cobrado com relação ao meu voto, porque tenho a visão de que aqui se trava um debate político e um debate partidário também. E nós temos divergências. E eu vou aproveitar este momento,  onde já anunciei o meu voto, onde já anunciei a minha posição, para fazer uma cobrança. O militante do movimento social, o  Herbert Souza, o Betinho, teve o seu nome aprovado, aqui, num título de Cidadão de Porto Alegre, com o voto deste Vereador e, obviamente, com a maioria dos votos, e não lhe foi concedido o título porque, coincidentemente, dez dias depois da votação nesta Casa, houve aquele problema no Rio de Janeiro do dinheiro dos “bicheiros” e o nome do Betinho foi envolvido e não lhe foi concedido o título. E foi aprovado o título por sugestão de um companheiro, amigo, Vereador do PT, e não lhe foi dado o título. Por que não foi dado o título ao Betinho? Eu quero estar na Sessão e me pronunciar na entrega do título ao Betinho. O que houve que determinou o recuo na entrega do título ao Betinho? Eu quero dizer para os Senhores e para as Senhoras que é natural a divergência, que é natural que tenhamos posições absolutamente distintas e é natural o confronto. E não acho que a Casa inteira tenha obrigação de dar o seu voto favorável a este ou aquele projeto, ainda mais quando é uma figura como João Pedro Stédile, uma figura polêmica, na opinião deste Vereador, da maior importância, da maior representatividade, mas, inquestionavelmente, uma figura polêmica. E os verdadeiros militantes sociais são figuras polêmicas. Ou não se sabe que tivemos debates sérios na votação do título ao companheiro Jair e que temos até hoje problemas em função da votação do projeto do Sambódromo, com representantes importantes do Partido dos Trabalhadores, a exemplo da figura do  Jair Kriscke, em  função da defesa do Parque? A questão é polêmica e tem que provocar divergências. O voto deste Vereador é favorável ao Projeto e é de cobrança da entrega do título ao Betinho. Por que, se as declarações de João Stédile, que mudaram alguns votos, são objeto de questionamento,  os episódios que envolveram o Betinho não podem sê-lo? Temos que ter a mesma linha de comportamento. Se a mudança provocada por João Pedro Stédile, nas suas declarações, não se justifica para alguns - não é minha opinião, não entrei nesse mérito -, o comportamento de Betinho, na sua vida inteira, autoriza que amanhã o Partido do Governo na Casa providencie a entrega desse título. É importante que tenhamos sempre a capacidade de observar a trajetória inteira de uma vida, uma biografia por completo e não um episódio isolado. Por isso, faço esta cobrança. Aguardo com ansiedade, aprovando o Projeto de hoje, a Sessão Solene da entrega do título de Cidadão de Porto Alegre ao companheiro Betinho. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Está com a palavra o Ver. Juarez Pinheiro para discutir.

 

O SR. JUAREZ PINHEIRO: Sr. Presidente e Srs. Vereadores, pensei em vir a esta tribuna e de forma veemente fazer a defesa da aprovação desta proposição da Vera. Maria do Rosário. Refleti melhor e achei que o tom coloquial era o adequado porque não acredito que esta Câmara de Vereadores da Cidade de Porto Alegre vá ter a falta de sensibilidade política - vai querer fazer a ruptura com a sua história nos grandes momentos, quando tem que mostrar a sua cara, o seu perfil, a sua dimensão política - de não aprovar a proposta da Vera. Maria do Rosário. Nesse sentido, eu faço a conclamação à inteligência, à sensibilidade política dos nobres Vereadores desta Casa. Seria  uma grosseria, uma falta de inteligência, uma violação da história desta Casa a não-aprovação da proposta.

Concordo com que disse João Pedro Stédile; eu, pessoalmente, iria mais longe, porque contra a violência do Estado cabe a reação dos cidadãos. Por esse critério, pelo que alguns Vereadores estão colocando nos seus pronunciamentos, se Jesus Cristo fosse vivo  e trabalhasse pelos pobres, não receberia o título de Cidadão de Porto Alegre, porque Jesus Cristo falava por parábolas. Jesus Cristo, Ver. João Carlos Nedel, Vereador que representa o PTB junto com o Ver. Paulo Brum, falava através de parábolas, e João Pedro Stédile falou por parábolas para mostrar que é uma violência, que não se pode compreender o que o Estado brasileiro faz com os cidadãos neste País. Utilizam-se apenas 10% das terras para produzir alimentos para esse povo. É o país de maior concentração de capital, de propriedade, do mundo. Ele falou com parábolas para chamar a atenção, já que com palavras comuns não atingiria o senso comum. E ele disse através de parábolas o que milhões de brasileiros gostariam de dizer: “Viva a reforma agrária!”.

Por isso, nesse sentido, se nós inaugurarmos aqui esse procedimento, coisa semelhante às utilizadas na Idade Média, na Inquisição, de descontextualizar um pronunciamento, uma frase de uma pessoa, esquecendo da sua história, estaríamos na verdade cometendo um suicídio político desta Câmara de Vereadores, o que, tenho certeza, não acontecerá, porque a proposta da Vera. Maria do Rosário vai ser aprovada pela sensibilidade política que os seus membros têm demonstrado ao longo do tempo, o que também não deixarão de fazer nesta legislatura. Muito obrigado.

 

 (Não revisto  pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: O Ver. Lauro Hagemann está com a palavra para discutir.

 

O SR. LAURO HAGEMANN: Sr. Presidente e Srs. Vereadores, toda  vez que esta Casa examina um processo e um projeto desta natureza, eu fico me perguntando qual o procedimento que se vai ter: puramente protocolar, político, ideológico? Eu respondo por mim. Nunca recusei um título, porque confio na proposta de meus companheiros Vereadores quando oferecem à consideração da Casa um nome que é da exclusiva responsabilidade de cada um. Claro que não podemos homenagear nenhum bandido, nenhum cidadão que tenha praticado um crime contra a sociedade, contra a humanidade.

Aqui, nesta Casa, já houve precedente de recusa de nome de cidadão para compor o elenco de honorários da Cidade. Muitos Vereadores não foram desse tempo, e eu também não fui, mas sei que a Câmara Municipal de Porto Alegre rejeitou, numa certa ocasião, um título de Cidadão para uma figura ilustríssima que conviveu nesta Cidade e construiu um monumento público, que é a Pontifícia Universidade Católica. A recusa foi para o Irmão Otão. Não era um qualquer. O Irmão Otão morreu em 1971 e, em 1989, esta Casa lhe concedeu, “in memoriam”, o título de Cidadão de Porto  Alegre. Ele, em vida, tão magoado ficou com  a  recusa do título - que não tinha pedido -, que se recusou a reconsiderar o ato e permitir que lhe fosse dado o título. Hoje a nossa legislação exige que o candidato à homenagem aceda, por escrito, no processo, concordando com a indicação do seu nome. Naquele tempo não havia isso. Então, o Irmão José Otão, que é nome de rua em Porto Alegre, que tem aquele monumento que é a PUC,  teve recusado, por esta Casa, o título de Cidadão de Porto Alegre. Por quê? Eu não vou pesquisar e nem os Senhores, mas foi um coisa interna da Casa, divergências entre Vereadores que não lhe deram um número suficiente de votos para que ele fosse designado com essa honraria. Então, Srs. Vereadores, eu dizia para a Vera. Maria do Rosário que tivesse muita cautela em colocar o exame do nome do Stédile à apreciação da Casa porque, se ele for recusado, vai determinar um acontecimento inusitado. Ele não  pediu, ele acedeu em receber o título, até porque está longe daqui, mas para o Movimento dos Sem-Terra a recusa do nome do Stédile para Cidadão Honorário de Porto Alegre significará muito. É um baque de desprestígio desse Movimento que todos hoje conhecem, uns de uma forma, outros de outra, mas é um movimento necessário para o momento brasileiro. É o único movimento organizado que este País tem. Se concordamos ou não com ele é outra história, mas é um marco na cidadania brasileira na década de 80/90. Então, Srs. Vereadores, a minha preocupação  é com esta posição que a Casa possa  vir a adotar,  muito perigosa, se for rejeitada. Não estou dizendo, com isso,  que cada um quebre as suas resistências e  proceda da maneira como melhor lhe convier ou como melhor lhe parecer, mas estou fazendo referência à repercussão possível que uma medida dessas possa trazer para a Casa e para o Movimento dos Sem-Terra. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Tem a palavra o Ver. Antonio Hohlfeldt.

 

O SR. ANTONIO HOHLFELDT:  Sr. Presidente e Srs. Vereadores, feliz ou infelizmente, a política vive do imaginário. Há cerca de dois meses, a Câmara Distrital, o que corresponde à Câmara de Vereadores de Brasília, negou um título de Cidadão de Brasília a ninguém menos do que Edson Arantes do Nascimento, o Pelé. É evidente que essa posição da Câmara tomou a todos de surpresa, foi notícia nacional. Ela decorreu em um contexto muito curioso, porque, na Câmara de Brasília,  existe a exigência de votação em dois turnos - ou, na Assembléia de Brasília, o que corresponde à nossa Câmara de Vereadores. No primeiro turno, o Legislativo havia aprovado a homenagem a Pelé e, no segundo turno, uma semana ou dez dias depois, recusou. Teria sido ótimo se houvesse um terceiro turno e a Presidente da  instituição ou o proponente tivessem feito uma análise mais cuidadosa politicamente no sentido de sentir exatamente o que estava “no clima” e tomar o cuidado de não colocar em jogo o nome de um Ministro,  sobretudo de uma figura pública que tem toda uma história de dedicação ao futebol deste País e à imagem deste País.

A situação que enfrentamos agora, a respeito dessa liderança do MST, é semelhante. Há dez dias, quando iniciávamos a discussão deste Projeto, eu era um dos que havia conversado com vários Vereadores no sentido de sensibilizá-los para votar a favor e, na minha condição de Liderança do PSDB, assinei favoravelmente ao Projeto. Não mudei minha posição em relação a  isso, porque acho que não tenho nenhum direito de julgar as ações de João Pedro Stédile - elas serão julgadas, evidentemente, pela opinião pública, por seus companheiros - e porque acho, também, que é absolutamente coerente. Pegou bem o Ver. Lauro Hagemann de que o MST tenha interesse em receber essa  homenagem através de Stédile, da mesma forma que o PT tem interesse em propor essa homenagem através da Vera. Maria do Rosário. Há absoluta legitimidade nessa proposta, mas há uma novidade que a  gente recolhe de conversas nas ruas, de encontros eventuais: as pessoas indagam exatamente a respeito da posição da Câmara de Vereadores. Se conheço bem esta Casa e este Plenário, a Vereadora já tem os 22 votos assegurados. Agora, acho que, sobretudo, nós hoje estamos aqui discutindo, Sr. Presidente, Srs. Vereadores - me permitam dizer em voz alta -, não  só a figura de João Pedro Stédile, não  só o Movimento dos Sem-Terra, não  só a Câmara de Vereadores como instituição, mas vamos centralizar a atenção da opinião pública, independente do resultado; o que hoje tem que se discutir aqui, também, é a responsabilidade e o comportamento. Quando se propõe um projeto, se coloca em jogo o nome de uma pessoa e não se tem absoluta certeza da aprovação desse projeto.

Logo depois do episódio - não me interessa se é verdadeiro ou falso, não compete a mim julgá-lo -, eu comentava com alguns Vereadores de que se deveria ter cuidado na continuidade da tramitação deste Projeto. Esta Casa também trabalha com o imaginário e ela é cobrada em relação a esse imaginário. Também temos responsabilidades em relação a isso.

Provavelmente, nos meus 15 anos de Vereador, esta Casa nunca recusou um título, mas também é verdade - quero deixar registrado porque até agora ninguém o fez, por um ou outro motivo - que esta Casa foi capaz de fazer Vereadores retirarem projetos de homenagem, de títulos, e  os Vereadores foram capazes de ter sensibilidade política de acatar aquilo que sutilmente era dito a eles para não colocar em jogo o nome de um pretenso homenageado. Isso não ocorreu nem uma, nem duas, nem três vezes ao longo desses anos, Ver. Adeli Sell. Ocorreu várias vezes. Mas aí o proponente teve que ter a humildade, o cuidado em não repassar a responsabilidade para o Plenário da Casa, para a instituição. Acho que o erro  é nós votarmos hoje o Projeto. Quem sabe daqui a dez dias as coisas estarão mais serenas? Repito: independente do resultado, quem vai sair prejudicada é a instituição Câmara de Vereadores de Porto Alegre, porque, se aprovar, vai ser criticada; se negar, vai ser criticada. E isso nós poderíamos ter evitado no encaminhamento. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)       

 

O SR. ISAAC AINHORN (Questão de Ordem): Sr. Presidente, de acordo com a Lei nº 1534, de 1955,  artigo 5º, anualmente não poderá ser conferido mais de um título para cada ramo de saber humano. Gostaria, então, de saber da Mesa Diretora dos trabalhos se, porventura, já foi dado o título, neste ano, para algum economista, pertencente a uma  das áreas de saber humano.

 

O SR. PRESIDENTE: O encaminhamento que é dado a esse tipo de processo é que passa pela Procuradoria, pela Comissão de Constituição e Justiça e pela verificação de todos os dados pelo Setor de Relações Públicas. A Mesa não tem, neste momento, condições de responder objetivamente esta pergunta. Entende, ao que consta, que não há outro título, neste ano, para uma pessoa com essa profissão. Dependerei de confirmação.

 

O SR. ISAAC AINHORN (Questão de Ordem): Sr. Presidente, note V.Exa. o seguinte: é uma disposição da Lei. Nós sabemos de projetos que, muitas vezes, passaram pela Procuradoria,  pela Comissão de Justiça e algum ponto legal não foi enfrentado. É natural que isso aconteça em dezenas e centenas de projetos que tramitam nesta Casa. Evidentemente, agora questionado o assunto, eu entendo, “data venia”, de um entendimento mais correto. Criada a questão, a Mesa deve respondê-la, até porque é uma disposição legal de natureza cogente.

 

O SR. CYRO MARTINI (Questão de Ordem): Sr. Presidente, em razão da finalidade da Lei lida pelo nobre Ver. Isaac Ainhorn, percebe-se, de plano, que não há relação com a legislação que permite a esta Casa a concessão de título de Cidadão. É óbvio que uma coisa não tem nada a ver com a  outra, a não ser uma manobra pela qual se procura apenas tornar dispersiva e criar problemas e embaraços para a  Mesa. Basta perguntar se a Lei que trata da concessão de título é posterior àquela e pronto.

 

O SR. PRESIDENTE:  A Mesa interrompe os trabalhos  a fim de  buscar a resposta ao questionamento do Ver. Isaac Ainhorn. Não há como fazermos um contraditório a um  esclarecimento, Vereador.

 

(Suspendem-se os trabalhos às 16h45min.)

 

O SR. PRESIDENTE (às 16h52min): Estão reabertos os trabalhos. A Mesa já tem resposta para o enigma colocado pelo Ver. Isaac Ainhorn: primeiro, não há nenhum economista que tenha recebido o título honorífico de Cidadão de Porto Alegre; segundo, fomos esclarecidos pelo 1º Secretário de que o art. 1º da Lei 1534 tem uma seqüência, que deveria ter sido lida por nós - a culpa é da  Mesa: “qualquer dos ramos do saber humano ou que, por sua ação, hajam se tornado merecedoras do reconhecimento da Cidade”. Quer dizer: poderia ter um, dois ou três economistas.

Em votação o PLL nº 002/97.

O Ver. Pedro Américo Leal está com a palavra para  encaminhar.

 

O SR. PEDRO AMÉRICO LEAL: Sr. Presidente, Srs. Vereadores, esta não é uma luta da esquerda contra a direita nem tampouco uma queda de braços entre ricos e pobres, porque não seria eu, Ver. Pedro Américo Leal, que estaria, agora, tomando a posição que estou tomando. Lembro-me de quando desembarquei aqui no Rio Grande, depois de 31 dias de viagem do Norte para o Sul. Eu  não tinha onde cair morto, não sabia onde era a Rua da Praia, tampouco a Av. Borges de Medeiros. Não tinha nenhum conhecido aqui. O Ver. Barbosa reclama que, com ele, se deu o mesmo. Como se diz na gíria, eu só tinha de meu “o pau da venta e o couro do espinhaço”. Não tinha nada!

A Vera. Maria do Rosário, que já conturbou o Plenário com este Projeto, poderia não conturbá-lo novamente.

Pobre, sem conhecer ninguém, filho de uma viúva, sem pai - eu tinha quatro anos quando meu pai se foi -, como é que eu iria defender os ricos e não os pobres? Não! Não se trata disso. Não são direita e esquerda que estão medindo aqui, nem pobres e ricos. É o estado de direito! Esse homem pregou o desequilíbrio do estado de direito. Digam o contrário os bacharéis aqui. Levantem-se, bacharéis! Ele pregou o desequilíbrio do estado de direito, a não ser que ele desminta. Não sei qual é a posição dos Vereadores que são bacharéis. Sejam do PT, do PTB, de onde forem, eles estão agora avaliando o que é o estado de direito. Disse muito bem o orador que me antecedeu: que a Revolução veio, a ditadura veio, porque a indisciplina se instalou neste País, porque a hierarquia desapareceu. E por que desapareceu? Porque o estado de direito veio abaixo!

Eu pertenci ao regime militar, à chamada ditadura, e sei o que é isso. O que é o estado de direito? É a garantia da sociedade democrática.

Então, estamos aqui agora, por sugestão da Vera. Maria do Rosário, fazendo avaliação do que disse João Pedro Stédile. Ele pregou a baderna, pregou a desorganização social, disse que era, espontaneamente: “Senhores desempregados, vão para as fábricas e tomem-nas, vão para os terrenos baldios e invadam”... Não é ocupar, é invadir: “Invadam, vão para os supermercados e se postem, meditando o que vão fazer.”.

Esse homem não merece o título de Cidadão Emérito de Porto Alegre. A Vera. Maria do Rosário nos colocou à prova, nos experimentou. Ela não tinha o direito de fazer isso. O PT veio com ela. O PT está em xeque. Os Vereadores, agora, responderão “sim” ou “não”. Se responderem “sim” e derem o título a João Pedro Stédile, é a consagração desse homem que pregou a baderna no Brasil. Se proclamarem “não”, rejeitam a baderna, impõem o estado de direito. É o que menos podemos fazer. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE:  A Mesa pede à platéia que não haja manifestações, nem de aplausos, nem de vaias.  É regimental. Pedimos a gentileza que se mantenham em silêncio. Aqui é a Casa do contraditório. Temos que ouvir uns e outros.

Com a palavra o Ver. Luiz Braz para encaminhar.

 

O SR. LUIZ BRAZ: Sr. Presidente e Srs. Vereadores, eu ouvia os Vereadores que passaram aqui por esta tribuna discutindo este assunto e, entre eles, ouvi o Ver. Antonio Hohlfeldt, que trouxe, para mim, um dos melhores argumentos para esta discussão. Ele disse que alguns Vereadores, no passado, já tinham sido - e não vou dizer obrigados - levados a uma determinada situação de retirarem a sua proposta de ofertar um título a uma determinada pessoa, porque não era, na verdade, a unanimidade do Plenário. O Ver. Antonio Hohlfeldt, quando dizia isso, não sei se  lembrava de todos os nomes que tinham passado por essa situação, mas este Vereador, em determinado ano, ofereceu uma proposta de título a uma determinada pessoa e, como o Plenário manifestava-se contrário e vi que esse meu amigo perderia a votação, retirei a proposta, porque eu acreditava que o importante não era eu tentar vencer, podendo ser derrotado. O importante era não permitir que essa pessoa, que era minha amiga, fosse ridicularizada pelo Plenário. Eu falo isso porque acho que a única pessoa que pode, neste instante, saber se deve ou não fazer essa homenagem ao Stédile é a própria Vera. Maria do Rosário, ninguém mais, porque cada um de nós, Vereadores, podemos apresentar um nome, num determinado ano, para que esse nome receba essa homenagem. Sendo assim, acredito que, se alguém que estiver situado na extrema-direita oferecer um nome da extrema-direita para que esse nome receba a homenagem, acho que, como ele é representante desse segmento social da extrema-direita, ele merece poder fazer essa homenagem para alguém que representa o seu segmento. A Vera. Maria do Rosário apresentou a proposta porque acredita que o Sr. Stédile representa exatamente o segmento que ela representa aqui neste Plenário. Eu acho que é esse o respeito que temos que ter com as propostas de título de cidadania. Eu jamais apresentaria uma proposta para homenagear aqui, neste Plenário, Ver. Pedro Américo Leal, o Sr. Stédile, porque não comungo com seus pensamentos, mas jamais vou negar esse direito a alguém que representa o segmento ao qual pertence o Sr. Stédile, de poder fazer uma homenagem a alguém que faz parte desse movimento e que, a essa altura dos acontecimentos, não podemos negar,  é um movimento grande e importante, que não faz parte da nossa corrente de pensamento, mas existe e não podemos negar. Se ele está crescendo, se avança e ocupa lugar nas grandes discussões nacionais, por que ele não pode ter seu nome votado por proposta de alguém que acha que o  representa aqui neste Plenário? Eu jamais vou negar meu voto a um projeto de título de cidadania. Se estivéssemos ainda dentro das regras do passado, quando cada Vereador podia apresentar vários projetos oferecendo títulos, de repente poderia pensar em negar meu voto, mas hoje cada Vereador pode escolher apenas um nome. Por isso, mesmo tendo razão o Ver. Pedro Américo Leal de que o Sr. Stédile nega o estado de direito, acho que não podemos, de forma alguma, deixar um companheiro de Plenário, que representa determinado segmento, sem ter a oportunidade de homenagear alguém que acredita  ser uma grande liderança do movimento que representa aqui nesta Casa. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: O Ver. Nereu D' Ávila está com a palavra para  encaminhar.

 

O SR. NEREU D' ÁVILA: Sr. Presidente e Srs. Vereadores, esse título tornou-se polêmico visto que a pessoa homenageada, pela sua condição de líder de um segmento social importantíssimo neste País, fez declarações à imprensa por diversas vezes e numa delas houve interpretações dúbias sobre o que ele teria falado. Então, chamou a atenção desta Casa, porque esta Casa tem-se pautado pela sua responsabilidade e até, eu diria, pela sua parcimônia em relação a não tornar, de certo modo, desvalorizada a concessão do título. Por isso que, naquele momento em que houve objurgatórias à concessão de tal título, eis que ele significa mais que a maioria absoluta, dois terços desta Casa... Então, há que ter um peso expressivo o nome. Sob o aspecto legal, parece-me, a Lei nº 1534 não obstaculiza, porque diz o art. 1º: “É instituído o título honorífico de Cidadão de Porto Alegre e  será conferido a pessoas que se tenham distinguido em qualquer dos ramos do saber humano e, por sua ação, se hajam tornado merecedoras do reconhecimento da cidade.”. Eu creio - eu não ouvi a Vera. Maria do Rosário, estive envolvido toda a tarde com problemas outros dentro da Casa - mas eu creio que é o segundo item que, por sua ação, levou à outorga do título pela nobre Vereadora: a ação desse cidadão em lutar  por um segmento que está, como tantos outros, com oportunidade, dentro da democracia que estamos vivendo, com a possibilidade de fazer chegar aos órgãos públicos os problemas que afligem as populações. Estamos vendo aqui, hoje à tarde, um segmento da nossa Cidade que também está  com problemas sérios e que acorreu ao nosso convívio, o que muito nos honra, e que tem o sagrado direito de postular diante da sua ótica as questões que lhe afligem.

 A segunda questão é sobre a  conduta de Stédile, o conteúdo da sua luta em prol da reforma agrária. Salvo melhor juízo, creio que, quando da audiência com o Sr. Presidente da República, ele foi um dos líderes dessa audiência e foi enfático na colocação ao Presidente dos problemas. Não ouvi falar em nenhum órgão da imprensa que tenha faltado com o respeito. Mas o que finalmente me leva a dar o voto favorável a essa proposta da nobre Vereadora foi uma entrevista que ele deu ontem ao “Jornal do Brasil”, de página inteira, onde ele aborda, com muita acuidade e, inclusive, sem nenhuma ingenuidade, os problemas. Aliás, se fosse ingênuo, não teria chegado onde chegou, porque num cipoal de interesses, principalmente nessa área, ao longo de uma história de conservantismo e de conservadorismo no campo, não há lugar para ingênuos liderarem aqueles que postulam uma reforma agrária. Mas pareceu-me que esse cidadão ontem, com diversas  perguntas de profundidade, deu respostas objetivas, fundamentadas e até explicou a questão de que teriam dito que ele teria estimulado invasão a supermercados e coisas do gênero. Absolutamente, ele não confirmou isso. Muito pelo contrário, e de uma maneira franca, ele posicionou-se legitimamente, explicando inclusive certas atitudes de, às vezes, invadir sede de INCRA aqui ou em outros Estados. E ele alegou que, se não fizer certas coisas, não chama a atenção, porque os excluídos têm que ser ouvidos duas vezes para serem ouvidos pelos incluídos ou pelos que conduzem as normas do País. De modo que não vi nada de anormal. Não é a primeira vez que se dá títulos para personalidades que, por sua ação, conduta ou destaque, sejam de outras praças ou não sejam da Cidade de Porto Alegre. E dada a entrevista, li bem, sopesei bem a entrevista, porque também tinha dúvidas e responsabilidades como Vereador que representa 1/33. Como minha Bancada tem três  Vereadores favoráveis,  respeito o voto do Ver. Isaac Ainhorn, mas a maioria da Bancada vota pela concessão do título. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Com a palavra o Ver. Reginaldo Pujol para encaminhar.

 

O SR. REGINALDO PUJOL: Sr. Presidente e Srs. Vereadores, ao encaminhar essa votação me indago uma questão fundamental. Ouvi, ao longo da minha vida legislativa, que não é curta, e ouvi com grande intensidade no interregno de 72 a 84, que não existe estado democrático fora do estado de direito. Aprendi que democracia e estado de direito são sinônimos. Aprendi, na prática, que não há democracia sem o estado de direito pleno vigente e respeitado. Isso também entenderam os Vereadores que, ao longo do tempo, passaram por esta Casa, tanto que, com sabedoria, quando criaram o título honorífico de Cidadão de Porto Alegre, através da Lei nº 1534, estabeleceram o modo pelo qual  o título seria concedido, os pré-requisitos que deveriam ser antecipados e após, no art. 4º, disseram, estabeleceram e consagraram que seria cassado o título quando o homenageado - e ali elenca algumas das colocações básicas até chegar no item “b” e dizer com clareza  meridiana - “atentar contra o regime democrático”. Ora, se o estado democrático se equivale ao estado de direito, se não  há democracia sem que o estado de direito seja preservado, quando alguém deliberadamente se propõe a promover ações que extrapolam o estado de direito e que contra ele se jogam, esse alguém está deliberadamente atentando  contra o estado democrático. Então, a concessão desse título, nas condições que hoje se estabelecem, nas circunstâncias que hoje se acentuam, equivale a dizer o seguinte: a Câmara de Vereadores está concedendo um título de Cidadão a alguém que se autocassou dessa honraria ao atentar contra o estado de direito e, por conseguinte, contra o estado democrático. Além do mais, essa mesma Lei estabelece os motivos pelos quais será cassado o título quando o homenageado, entre outras coisas, além de atentar contra o estado de direito, conduzir-se de forma a propiciar mau exemplo. Eu pergunto: o exemplo que oferece à Nação o Sr. Stédile é um exemplo que a Câmara de Porto Alegre quer consagrar? Nós queremos chancelar como exemplar a atuação daqueles que buscam... “Com certeza”, responde-me o Ver. Juarez Pinheiro, bacharel da melhor qualidade. O Ver. Juarez Pinheiro diz que o exemplo que esta Casa pretende consagrar é de se atentar contra o estado de direito e se propor que se faça a reforma agrária fora da lei, na marra e na desordem.

O nosso pronunciamento encaminhando a votação deve ser muito claro nesta hora. Aprendemos, no embate político, no embate parlamentar, que fora do estado de direito não há salvação e que justificar a quebra do estado de direito para se encher  de feijão e arroz a mesa do trabalhador é uma proposta sedutora, é um verdadeiro canto da sereia, mas é o exemplo que hoje pode ser utilizado na luta para encher de feijão, de arroz, de alimentos, o prato do trabalhador e que amanhã pode ser utilizado para, em contrário, tirar o feijão, tirar o arroz, tirar a farinha, tirar a liberdade, tirar os direitos, tirar tudo aquilo que são os bens maiores que o estado de direito tutela, que é a ordem democrática com a qual nós temos compromisso. Por isso, Sr. Presidente, o meu voto é contra, porque eu quero defender o estado de direito, a democracia e, sobretudo, a liberdade pública. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)                                               

 

O SR. JOÃO MOTTA (Questão de Ordem): Sr. Presidente, eu não acompanhei todos os pronunciamentos sobre o presente Projeto, mas  não ouvi nenhum Vereador, pelo menos da nossa Bancada, se manifestar contrário ao estado de direito. Para a boa qualidade do debate, para preservar a relação fraterna entre os Vereadores, é correto deixar precisas as falas. Eu só gostaria de fazer este registro para ficar bem claro ao Plenário que, desta Bancada, não há nenhum Vereador contrário ao estado de direito.

 

O SR. PRESIDENTE: A Mesa recebe como um Esclarecimento e não como Questão de Ordem a manifestação de V. Exa.

O Ver. Cláudio Sebenelo está com a palavra para encaminhar.

 

O SR. CLÁUDIO SEBENELO: Sr. Presidente e Srs. Vereadores, no encaminhamento que estamos dando a esta proposta da Vera. Maria do Rosário, temos o testemunho das televisões, das rádios e dos jornais do dia 22 de maio, quando, na véspera, o Sr. João Pedro Stédile, líder do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra, conclamou a que as pessoas ocupassem os supermercados para garantir um direito que está na Bíblia,  que todo o homem tenha o que comer. Agora, isso não pode ser desmentido, porque todo o País viu na televisão. Foi uma entrevista dada ao País inteiro. Não pode dizer que não disse. Há o reconhecimento da sociedade de que o Movimento  dos Trabalhadores Sem-Terra é importante socialmente, mas está muitas vezes sob suspeita, como diz a “Zero Hora”", em que, numa operação de rotina, a Polícia Federal descobriu em poder dos membros do Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra documentos  nos quais os assentados no Pontal se comprometem a doar 2% da verba que receberam do PROCERA para financiar atividades do Movimento  dos Sem-Terra. De acordo com o contrato entre o Ministério da Reforma Agrária e o Movimento Sem-Terra, esse dinheiro só pode ser usado para assentamento e financiamento de lavoura. É proibido usar esse dinheiro para financiamentos de invasões, o que é inclusive confirmado pelo líder Gilmar Moura. O valor do prêmio é de  2% para cada família que recebe o PROCERA. É formalmente proibido por contrato, por lei e pela organização da defesa do Movimento dos Sem-Terra.

Então, Sr. Presidente e Srs. Vereadores, pelo intempestivo, pela extemporaneidade da Vera. Maria do Rosário, que teve a infelicidade de propor o título de Cidadão Emérito para João Pedro Stédile, quando ele causou este problema de ordem nacional, atentando, sim, Ver. João Motta, contra a ordem institucional, chamando o Ministro Jungmann de canalha e, depois, tendo que ir ao Palácio e apertar a mão do Ministro que, em uma atitude solidária e compreensiva, aceitou iniciar um diálogo com o Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra... E hoje o Presidente do INCRA está com uma proposta para a reforma agrária com o Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra e com a anuência do líder José Rainha.

Foi lamentável e infeliz a proposta da Vera. Maria do Rosário e o voto do PSDB é contra. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: A Vera. Maria do Rosário está com a palavra para encaminhar.

 

A SRA. MARIA DO ROSÁRIO: Sr. Presidente, Srs. Vereadores, de alguma forma, me alegra que estejamos fazendo este debate, principalmente porque temos uma trajetória, como Câmara Municipal de Porto Alegre, absolutamente comprometida com  a  nossa gente, com o povo brasileiro e com o povo trabalhador da nossa Cidade.

Na primeira fala, quando discuti, perguntei ao nosso Plenário quantas e quantas pessoas daqui, como eu, e certamente como a maioria dos nossos Vereadores, são pessoas vindas do interior do Estado do Rio Grande do Sul ou até de outros Estados da Federação. E disse que a apresentação do nome de João Pedro Stédile para que venha a ser conferido a ele o título de Cidadão de Porto Alegre se dá, fundamentalmente, pela generosidade com que este cidadão brasileiro, com que este economista, mas, principalmente, cidadão brasileiro, vindo do interior do Estado do Rio Grande do Sul e que alcançou projeção nacional, tem-se  dedicado à luta pela reforma agrária, que diz respeito à vida de cada um de nós, aos nossos parentes, à nossa história, à minha história e à história de cada um de nós vindos do interior, do campo brasileiro, onde tantas desigualdades se perpetuam e onde a concentração de renda se dá de forma tão poderosa através da concentração da propriedade da terra.

Em nenhum momento - e já tivemos esclarecimentos suficientes sobre este fato - nós tivemos, nas palavras de João Pedro Stédile, qualquer iniciativa no sentido diferente do estado de direito. Quero dizer aos Srs. Vereadores, para tranqüilizá-los, que, efetivamente, a nossa Câmara tem um reconhecimento direto, real, com todos os movimentos populares, com todos os movimentos sociais. Sabe que a sociedade democrática é feita justamente pela contradição, pelos diferentes posicionamentos e  recolhe dentro de si, com respeito, esses posicionamentos. E sempre o fez até o dia de hoje. Vejam V. Exas., o MST sempre apoiou e é solidário com todos os pobres do Brasil e nós organizamos e estimulamos a que eles se organizem e lutem por seus direitos. Essas são as palavras de João Pedro Stédile. Será que é João Pedro Stédile ou o Movimento do Trabalhadores Sem-Terra que fala contra o estado de direito?  Ou fala contra o estado de direito a realidade aviltante do salário mínimo, a realidade aviltante de mais de trinta e dois milhões de pessoas que vivem abaixo do nível de miséria? Será que é possível que exista, Srs. Vereadores, o chamado estado de direito se não houver justiça e paz verdadeiras? Todos nós, que trabalhamos com a comunidade, sabemos como o nosso povo sofre. Nós sabemos que a violência existe, sim. A violência vitima cada cidadão; a violência do desemprego vitima milhões de trabalhadores. Vejam o que diz o documento do MST. Ele pergunta quem é o culpado por esta situação de miséria que vive o povo brasileiro e tenta nos dar uma resposta. Sem presunção, diz que há uma herança  histórica de exploração e miséria provocada pelas elites, mas há, também, uma responsabilidade direta da atual política econômica. Nós precisamos, quando analisamos esta proposta de cidadania de Porto Alegre, reconhecer, primeiro, que em Porto Alegre, na sociedade  brasileira, existem diferentes opiniões e devemos respeitar as diferenças de opiniões. Hoje, o Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra significa, para muitos trabalhadores, também uma esperança, uma luz, o desejo de trabalhar, o desejo de produzir. Eu pergunto a V. Exas.: que são os sem-terra? O Florestan Fernandes, que  é uma pessoa que sempre devemos lembrar com  felicidade pelas palavras que nos deixou, pela teoria e pela prática que teve durante toda a sua vida, uma vez respondeu, num artigo, na “Folha de São Paulo”: "Os sem-terra são aqueles que estão trabalhando no campo e se negam a ter as suas crianças mendigando pelas sinaleiras; se negam a ter seus meninos e meninas pedindo, explorados pelo trabalho infantil ou vítimas da exploração sexual. São pessoas que querem trabalhar, cidadãos brasileiros”. E uma das suas lideranças originais, produzida a partir de Lagoa Vermelha, de Veranópolis ou aqui, de Porto Alegra, é João Pedro Stédile, um cidadão rio-grandense, um cidadão brasileiro, que defende o povo trabalhador brasileiro.

Srs. Vereadores, tenhamos responsabilidade. Nós precisamos reconhecer que este  Plenário é absolutamente plural. Eu nunca votei contra nenhum pedido de cidadania de Porto Alegre. Acho que cada um de nós tem o direito de trazer a representação que trouxe das urnas para dentro desta Casa. É por isso que eu peço o apoio de V. Exas., porque a aprovação desse ato de cidadania será, certamente, o melhor para a Cidade de Porto Alegre, para o povo brasileiro e um reconhecimento da nossa responsabilidade com o povo trabalhador. Muito obrigada.

 

(Não revisto pela oradora.)

 

O SR. PRESIDENTE:   Em votação o PLL nº 002/97. (Após a chamada.) APROVADO por 24 votos SIM, 05 votos NÃO e  02 ABSTENÇÕES.

Solicito ao Sr. Secretário que proceda à leitura das Declarações de Voto encaminhadas à Mesa.

 

O SR. 1º SECRETÁRIO: (Lê.) 

“Votei favorável, atento ao trabalho que Pedro Stédile faz na defesa da Reforma Agrária. As declarações que se lhe atribuem ou que tenha feito, as retirou, o que me basta para decidir.”

                                                      (aa)   Ver. Elói Guimarães

                                                                                   Ver. Nereu D'Ávila

(Lê.)

“As circunstâncias vivenciadas pela Nação nos últimos meses balizam nossa posição. Aprovar a proposta da Vera. Maria do Rosário, que concede a cidadania honorária de Porto Alegre  a João Pedro Stédile, equivale,  neste momento, a apoiar o Movimento pela Reforma Agrária fora da lei e na marra.

A Nação toda viu e ouviu, na semana passada, as manifestações do Sr. Stédile concitando os trabalhadores urbanos e rurais a buscarem, na desobediência civil, o atendimento de seus reclamos. Assim, a decisão que tomamos neste dia é emblemática,  eis que significa apoiar a ação daqueles que, ao arrepio da lei, buscam impor suas idéias através da força, da desordem e sobretudo da contestação ao estado de direito.

Por tudo isto, voto contra a proposição em exame e o faço na conformidade das razões aqui expostas e, também, das posições que coloquei na tribuna ao discutir a matéria. Pelo estado de direito, pela democracia e pelas liberdades públicas.”

                                                       (a) Ver. Reginaldo Pujol

 

A Declaração de Voto do Ver. Pedro Américo Leal diz o seguinte: “Voto contra, aguardando as conseqüências. Saúde e Paz.”.

 

O SR. PRESIDENTE: Estão suspensos os trabalhos para a reunião conjunta das Comissões. 

 

(Suspendem-se os trabalhos às 17h40min.)

 

O SR. PRESIDENTE (às 18h34min): Estão reabertos os trabalhos. (Após a chamada nominal para verificação de quórum.) Não há quórum.

Estão encerrados os trabalhos da presente Sessão.

 

(Encerra-se a Sessão às 18h34min.)

 

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